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bebo da ansiedade...a tua
ouço alarido gritos
sinto tremores no meu corpo
onde te e me habito
não pretendo ser silêncio
estou aqui alerta fico
na esperança de ser norte
chama por mim e confia eu vou
são exames incertezas
não antecipes veredictos
serena o teu desvario e sorri
tanto amor à tua volta
gera energia avultada
só tens que estender a mão
desespero por encontrar
palavra que seja a mais certa
e no teu mundo fechado
abrir a janela perfeita
que deixe passar toda a luz
para no silêncio quebrar
o mal e a sua raiz
autor: JRG
Era a primeira vez que viajava de avião, uma nave bojuda, movida a hélices potentes, voando baixo sobre a mata luxuriante de magia, que parecia querer cair a cada instante e mergulhar no vazio, quando passava por turbulências do ar.
Manuel António, sentado entre caixotes de mercadorias, vestido de gente, era como se fosse de férias, a tez amarelecida pelo medo.
Conseguira esta fuga breve de ir à cidade, os dentes eram um motivo bastante, a dignidade, os medos, o direito de recusa não, mas os dentes eram um motivo bastante.
A cidade era um deslumbramento ante os seus olhos, há mais de um ano convertidos ao sol e à floresta, ao pó e à condição expectante de viver, ao perscrutar nocturno dos ruídos.
Alugou um quarto no hotel e deambulou pela cidade em busca de sorrisos. Jantou num restaurante e comeu ostras na esplanada junto ao mar, viu mulheres Atlânticas que pareciam estrelas de cinema, dizia-se que enganavam os maridos metidos no mato.
Ao longe ouviam-se rebentamentos de granadas, ouvia-se dizer que era a psico do inimigo, flagelar as mentes até à possível rotura. Lúgubres, trooommm, trooommm e após um breve silêncio, de novo trooommm. trooommm, incessantes.
Patentes intermédias passeavam-se fardados de divisas e galões, imponentes, austeros, como se a carne deles fosse indiferente à penetração de balas e estilhaços, como se não apodrecesse do mesmo modo que a do básico, do soldado.
Altas patentes recolhidas em seguras moradias ou escoltadas por diversos seguranças, como quando comandavam do alto dos céus, na falsa segurança das avionetas, e olhavam a fila de pirilau esbatida no terreno poeirento ou alagadiço das bolanhas.
Sentiu a euforia de ouvir a voz de Alexandra, tremia enquanto marcava o número, tinham combinado tudo com tempo entre cartas, mas não sabia se havia algum motivo contrário.
A voz da telefonista:
_Troncas...
Era assim, repetiu o número três vezes com medo de se ter enganado e ouviu a voz que dizia, falem...
Alexandra!...meu amor
_Que alegria meu querido, que emoção. Tenho saudades...
As vozes dele e dela embargadas, emaranhados na linguagem confusa que pareciam reaprender de novo, querer dizer tudo e as palavras amontoadas em sobressaltos gritantes, movediças nas gargantas sequiosas. Disseram amor, os olhos dele e dela ofuscados pelo sal de lágrimas de alegria.
E de repente o silêncio abrupto entre o alarido de vozes desesperadas que aguardavam a vez. Ficou a voz dela ecoando na penumbra que se fez no seu pensamento. Apanhar qualquer coisa e partir, o vento, e partir...
De regresso a casa, que é como dizer, ao mato onde teria de viver mais alguns meses, a lancha pernoitou num aquartelamento de uma pequena aldeia, onde encontrou um companheiro de escola. Abraçaram-se emotivamente e foi convidado para um jantar de saborosas ostras que tinham apanhado durante a tarde. Lembrar a infância, o mar, a outra mata tão serena que os assustava ao entardecer.
Foi então, já no calor do álcool que tudo transforma em absurda ingenuidade, que o amigo lhe contou como, com o beneplácito de furriéis e oficiais, se dedicavam a enrabar miúdos, para satisfação da libido e fugindo à responsabilidade de violar ou deflorar miúdas, altamente proibido pela moral, quer a local, quer a oficial.
Manuel António ficou estarrecido, o outro tentava justificar, que lhes davam em troca gasóleo que era para eles um bem altamente precioso e depois, ficariam mais miúdas livres para o futuro...se os putos virassem paneleiros.
Os olhos do outro encovados entre a cavidade onde se escondiam uns olhos pequeninos e já sem brilho, olhos mortos, olhos absorvidos pela insanidade ambiente.
Saiu para a noite, passos trémulos, cambaleante entre destroços pelos cantos das sombras que a luz difusa do candeeiro expandia mortiça.A saída era às seis da manhã.
Adormeceu em sonhos pavorosos, gritos, acusações tremendas, armas que se disparavam sozinhas, vales de grande profundidade e Alexandra num dos extremos, inacessível. Rostos moribundos de negros acusadores desde há milénios e crianças de olhar dócil, submissas.
Acordou entre suores e dores do corpo alucinantes, olhou o relógio e eram, 7 horas.
Acreditou que talvez tivesse havido algum contratempo, mas a lancha tinha partido e só havia outra dentro de 5 a 6 dias.
Manuel António passou o dia acabrunhado, sem forças ou alento de dentro, mais uma semana sem correio, a palavra amante e indutora da esperança, para mais agora que se sentia encurralado em ambiente hostil, afogado em dúvidas sobre o que fazer.
E sobreveio a doença temida, terrível, o paludismo, três dias na cama entre vómitos e suores, apenas pão e água, a sopa vomitava como qualquer outro comer, havia uma conserva de ananás que era tolerada, mas tão doce que lhe provocou enjoo ao terceiro dia, e depois tinha de a pagar e eram escassos os recursos. Sentiu a falta dum carinho de mulher.
Era a primeira vez que viajava de avião, uma nave bojuda, movida a hélices potentes, voando baixo sobre a mata luxuriante de magia, que parecia querer cair a cada instante e mergulhar no vazio, quando passava por turbulências do ar. Manuel António, sentado entre caixotes de mercadorias, vestido de gente, era como se fosse de férias, a tez amarelecida pelo medo. Conseguira esta fuga breve de ir à cidade, os dentes eram um motivo bastante, a dignidade, os medos, o direito de recusa não, mas os dentes eram um motivo bastante. A cidade era um deslumbramento ante os seus olhos, há mais de um ano convertidos ao sol e à floresta, ao pó e à condição expectante de viver, ao perscrutar nocturno dos ruídos. Alugou um quarto no hotel e deambulou pela cidade em busca de sorrisos. Jantou num restaurante e comeu ostras na esplanada junto ao mar, viu mulheres Atlânticas que pareciam estrelas de cinema, dizia-se que enganavam os maridos metidos no mato. Ao longe ouviam-se rebentamentos de granadas, ouvia-se dizer que era a psico do inimigo, flagelar as mentes até à possível rotura. Lúgubres, trooommm, trooommm e após um breve silêncio, de novo trooommm. trooommm, incessantes. Patentes intermédias passeavam-se fardados de divisas e galões, imponentes, austeros, como se a carne deles fosse indiferente à penetração de balas e estilhaços, como se não apodrecesse do mesmo modo que a do básico, do soldado. Altas patentes recolhidas em seguras moradias ou escoltadas por diversos seguranças, como quando comandavam do alto dos céus, na falsa segurança das avionetas, e olhavam a fila de pirilau esbatida no terreno poeirento ou alagadiço das bolanhas. Sentiu a euforia de ouvir a voz de Alexandra, tremia enquanto marcava o número, tinham combinado tudo com tempo entre cartas, mas não sabia se havia algum motivo contrário. A voz da telefonista: _Troncas... Era assim, repetiu o número três vezes com medo de se ter enganado e ouviu a voz que dizia, falem... Alexandra!...meu amor _Que alegria meu querido, que emoção. Tenho saudades... As vozes dele e dela embargadas, emaranhados na linguagem confusa que pareciam reaprender de novo, querer dizer tudo e as palavras amontoadas em sobressaltos gritantes, movediças nas gargantas sequiosas. Disseram amor, os olhos dele e dela ofuscados pelo sal de lágrimas de alegria. E de repente o silêncio abrupto entre o alarido de vozes desesperadas que aguardavam a vez. Ficou a voz dela ecoando na penumbra que se fez no seu pensamento. Apanhar qualquer coisa e partir, o vento, e partir... De regresso a casa, que é como dizer, ao mato onde teria de viver mais alguns meses, a lancha pernoitou num aquartelamento de uma pequena aldeia, onde encontrou um companheiro de escola. Abraçaram-se emotivamente e foi convidado para um jantar de saborosas ostras que tinham apanhado durante a tarde. Lembrar a infância, o mar, a outra mata tão serena que os assustava ao entardecer. Foi então, já no calor do álcool que tudo transforma em absurda ingenuidade, que o amigo lhe contou como, com o beneplácito de furriéis e oficiais, se dedicavam a enrabar miúdos, para satisfação da libido e fugindo à responsabilidade de violar ou deflorar miúdas, altamente proibido pela moral, quer a local, quer a oficial. Manuel António ficou estarrecido, o outro tentava justificar, que lhes davam em troca gasóleo que era para eles um bem altamente precioso e depois, ficariam mais miúdas livres para o futuro...se os putos virassem paneleiros. Os olhos do outro encovados entre a cavidade onde se escondiam uns olhos pequeninos e já sem brilho, olhos mortos, olhos absorvidos pela insanidade ambiente. Saiu para a noite, passos trémulos, cambaleante entre destroços pelos cantos das sombras que a luz difusa do candeeiro expandia mortiça.A saída era às seis da manhã. Adormeceu em sonhos pavorosos, gritos, acusações tremendas, armas que se disparavam sozinhas, vales de grande profundidade e Alexandra num dos extremos, inacessível. Rostos moribundos de negros acusadores desde há milénios e crianças de olhar dócil, submissas. Acordou entre suores e dores do corpo alucinantes, olhou o relógio e eram, 7 horas. Acreditou que talvez tivesse havido algum contratempo, mas a lancha tinha partido e só havia outra dentro de 5 a 6 dias. Manuel António passou o dia acabrunhado, sem forças ou alento de dentro, mais uma semana sem correio, a palavra amante e indutora da esperança, para mais agora que se sentia encurralado em ambiente hostil, afogado em dúvidas sobre o que fazer. E sobreveio a doença temida, terrível, o paludismo, três dias na cama entre vómitos e suores, apenas pão e água, a sopa vomitava como qualquer outro comer, havia uma conserva de ananás que era tolerada, mas tão doce que lhe provocou enjoo ao terceiro dia, e depois tinha de a pagar e eram escassos os recursos. Sentiu a falta dum carinho de mulher. jrg
A Mononucleose dizem que é doença benigna
mas numa criança pequena é sempre uma tempestade
amortece nela a vida ofusca-lhe o ser menina
torna baços os seus olhos espevita-lhe a maldade
porque sente a arrelia de não poder rir saltitar
privada das brincadeiras chora grita esperneia
sente dores na garganta na barriga mal estar
não importa se é pobre ou rica é a mesma panaceia
importa se sente amor de dentro à sua volta
ela não sabe que a dor se acalma na confiança
e que há meninos no mundo tristes nada os conforta
mas sente que é querida como deve uma criança
tantos mimos e beijinhos colinhos tão carinhosos
acabaram os castigos tudo lhe é permitido
só a febre a detém ensaia sorrisos gostosos
aprende da vida que o bem sem o mal não faz sentido
j.r.g.
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