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SamuelDabó

exercícios de escrita de dentro da alma...conhecer a alma...

SamuelDabó

exercícios de escrita de dentro da alma...conhecer a alma...

26
Jan14

LANÇAMENTO DO LIVRO: O DESASSOSSEGO DA MEMÓRIA

samueldabo

 

 

Sinopse da obra
O livro, “O Desassossego da Memória”, procura ir
ao encontro da memória do homem enquanto espécie
natural não massificada pelas religiões e pelo fatalismo
da liderança dos poderes compulsivamente emergentes:
militares, económicos e financeiros, em busca do homem
real, consubstanciado na sua animalidade e na alma
feminina.
É um livro contra os preconceitos e que considera 
a sexualidade como um motor de libertação do 
inconsciente profundo… uma sexualidade atenta aos 
instintos perversos sem desrespeitar a animalidade de 
que somos possuídos… mas contendo-a nos limites da 
consciência em que cada um se movimenta… 
É a mulher que comanda as emoções.
Porque a memória é o factor principal do desassossego
de viver aqui se procura evidenciar o papel da
mulher em todo o desenvolvimento humano e o obscu-
rantismo a que foi votado o seu pensamento ao longo de
milénios.
A história do romance vive-se num ambiente de
demência política e cultural com a transformação do
mundo em decadência e à procura dos alicerces para um
novo Humanismo.
O autor convida-vos ao salutar exercício de pensar,
simplificando o raciocínio em toda a sua amplitude…
SAMUELDABÓ/jrg

20
Nov13

O DESASSOSSEGO DA MEMÓRIA (Romance)

samueldabo



***


Sinopse da obra a publicar brevemente pela Chiado Editora.
*
O livro, “O Desassossego da Memória”, procura ir
ao encontro da memória do homem enquanto espécie
natural não massificada pelas religiões e pelo fatalismo
da liderança dos poderes compulsivamente emergentes:
militares, económicos e financeiros, em busca do homem
real, consubstanciado na sua animalidade e na alma
feminina.
É um livro contra os preconceitos e que considera 
a sexualidade como um motor de libertação do 
inconsciente profundo… uma sexualidade atenta aos 
instintos perversos sem desrespeitar a animalidade de 
que somos possuídos… mas contendo-a nos limites da 
consciência em que cada um se movimenta… 
É a mulher que comanda as emoções.
Porque a memória é o factor principal do desassossego
de viver aqui se procura evidenciar o papel da
mulher em todo o desenvolvimento humano e o obscu-
rantismo a que foi votado o seu pensamento ao longo de
milénios.
A história do romance vive-se num ambiente de
demência política e cultural com a transformação do
mundo em decadência e à procura dos alicerces para um
novo Humanismo.
O autor convida-vos ao salutar exercício de pensar,
simplificando o raciocínio em toda a sua amplitude…
SAMUELDABÓ/jrg

19
Nov08

A UM DESAFIO DA J. DO BLOG SOUMINHA

samueldabo
Desafio Literário!

 

 

O desafio é para que leiam. Se são muito jovens, leiam o que puderem, procurem estilos, conteúdos, formas de dizer, enredos. Excitem-se com os conhecimentos do passado, o romantismo...Não temam os autores profundos que nos revolvem as entranhas, que desmistificam conceitos inventados para nos castrarem face à realidade. E a realidade é nada. Não sabemos nada, mas o que formos sabendo de nós vai-nos perpetuando este sentimento de felicidade, de alegria de saber de ir sabendo...

 

Não vou atribuir lugares de ordem aos três livros que se pede no desafio, porque são todos primeiros.

 

Desde logo, ALEGRIA BREVE, de Vergilio Ferreira, uma obra que pode ser um romance ou uma dissertação sobre o homem numa dimensão extensa da sua singularidade face aos elementos.

A obra coloca-nos perante a possibilidade da solidão absoluta. Um homem, uma mulher e um cão, são os últimos habitantes de uma aldeia perdida entre fragas, para além das quais, fragas, cadeia de montanhas, florestas de coníferas, a vida continua.

E o homem reflecte sobre si no dia em que enterra a sua mulher, debaixo da velha figueira onde ela impusera que o fizesse, como último desejo.

O cão que ladra aos fantasmas que assomam nas portas escancaradas da aldeia. E ele, o homem, enfim só, infinitamente só, a visitar casa por casa, os nomes dos que lá habitaram, que influíram na vida dele, a evidenciar-se ele, como a essência da aldeia ou do homem que é, porque sabe que há vida, do lado de lá do vale em que se encontra...

 

E MEMÓRIA DAS MINHAS PUTAS TRISTES, de Gabriel Garcia Marquez, que eu interpreto como uma ode  ao amor na sua pureza mais sublime.

Um homem de 90 anos que nunca amou uma mulher ou um outro homem. Ter-se-á amado a si próprio? Que nunca se sentiu amado. Viveu sempre em indiferença face a este sentimento tão belo.  Satisfazia-se de sexo, enquanto necessidade biológica, em casas de prostituição.

No dia do seu aniversário, ano 90 da sua existência, ele decide oferecer-se uma virgem como prenda, uma prostituta iniciada e recorre a uma anfitriã do negócio, sua velha conhecida.

A menina é bonita, asseada, 16 anos? o quarto lúgubre e repleto de histórias de sexo, de dramas de impotência, de satisfações irracionais.

Ela despe-se e deita-se sobre a cama. E ele fica-se a olhá-la, as pernas bem torneadas, as ancas, os pelos sobre e em volta do sexo ainda virgem, o umbigo perfeito, as maminhas rijas, como botões de rosas, os lábios com um leve tom de rosa, os olhos amedrontados a ganharem confiança. Experimenta a sensação dos aromas, o cheiro do corpo, de dentro do sexo. Não lhe toca, e ela adormece. Ele coloca as moedas ao lado do corpo, como sempre fizera e remira-a em toda ela, de fora dela. A sua alma a interiorizar um sentimento profundo, desconhecido. Adormece e quando acorda, ela tinha desaparecido.

Havia uma rusga por toda a cidade sobre as ilegalidades do comércio do sexo. E ele em desespero bate as casas que conhecia, que frequentara, em busca da menina que amara, que começara a amar, que o ensinara, ou desabrochara dele, o amor...

 

E a fechar, A VIOLA ,de michel del castillo, onde o autor procura evidenciar a besta que existe na pessoa humana, em cada um de nós, que permanece em nós adormecida, por vezes e de como  ela se solta, nos transforma, em momentos de viragem da nossa subconsciência, ou provocada por factores externos,  ou de nós cansados de nos vermos reflecidos como um não ser,  ou provocados pela ignorância de agentes que nos são próximos, intimos...

 

 Gostava de saber os eleitos literários de:

  Estou_Estupefacta 

 Nayoko Nakamura 

23
Mai08

O ASTRÓLOGO

samueldabo

Na grande superfície comercial, num espaço nobre junto ao corredor central por onde toda a gente passa, já estava montada a banca, o cenário envolvente numa aura mística com a exposição dos livros e os cartazes que anunciavam a presença do Astrólogo.

Haveria a oferta da carta astral a quem comprasse um exemplar do livro ao que se seguiria uma breve interpretação das características de cada um.

Havia fila e impaciência pelo atraso. E eram, na sua maioria, mulheres, de meia idade e até jovens que admiravam o Astrólogo e as previsões que fazia sobre eventuais acontecimentos. à espera de respostas imediatas para agirem ou simplesmente aguardarem o ciclo propício.

A atmosfera de cheiros intrigantes numa simbiose de aromas díspares, entre perfumes e desinfectantes, o bacalhau os legumes, a livraria  de olores distantes.

Chegou. A mala a tiracolo. A expressão a indiciar cansaço, as desculpas em trejeitos de lábios e sorrisos, o trânsito, a dificuldade em arrumar o carro.

-O António, não veio, ainda?

Digo que não. E ele, desinteressado, a dizer que vem. Que ficou de vir e mais a Manuela e que sem eles não podia chegar a todos.

O computador, a impressora, as canetas e papeis para preencher o nome e as datas correctas de nascimento, local e hora.. O ligar das máquinas, o filho confortando-se na cadeira, iniciando o programa e a mãe, uma simpatia de senhora a dar indicações. A sentar-se majestosa e radiante de orgulho.

-Vamos lá começar. Quem está primeiro?

Avança a primeira da fila que leva dois livros. Um é para ela outra para oferecer à mãe que é uma grande admiradora do Astrólogo.

E ele, de olhos brilhantes, explicando que oferece a Carta Astral e uma pequena interpretação da mesma. Mais explicito, só marcando uma consulta, onde a personalização da análise permitirá outra ilações.

Entretanto chegaram os colaboradores. São como as fadas que sugerem paliativos a inquietações e dramas. E colocam-se à disposição. Os gestos abarcando todo o Universo. As palavras quentes e indutoras. A descoberta. Olhos húmidos pela emoção de se expor, a pessoa, mulher frágil enrolada em dúvidas, em suspeitas, anseios ou traições pressentidas

E o comercial, atento, distribuindo os papelinhos e respondendo a perguntas, incutindo expectativas, saindo já do aspecto comercial e deixando-se penetrar do espírito Astral e da humanidade evidente que se evade dos olhos, das palavras, de gente que se preocupa consigo própria. A encontrar similitudes abrangentes, a trocar impressões depois das impressões. A acreditar, a fazer acreditar.

Oiço o Astrólogo dizer a uma jovem que tem o signo tal em tal o que indicia um diferendo com sua mãe. E ela a aquiescer, que sim e a questionar como resolver tal dilema.

E ele que precisa de um estudo mais profundo, que ela marque uma consulta.

Ouço o António, num outro recanto da estante repleta de livros, surdos mudos ás vozes excitadas, excitantes que falam da tragédia de amores possessivos, inconstantes e nem sempre devidamente correspondidos.

E ele a falar em Marte, Úrano, Plutão e em tons macios, adulantes, penetrante no âmago do ser que se contorce na busca de si e de uma palavra que a seduza.

A troca de olhares cúmplices entre todos os que compõem a imagem de pequenas tragédias, ou simples curiosidade de saber se é verdade o que já sentem de si próprios.

Explicar até quase a exaustão que a Astrologia não é um ler a sina. É antes uma análise da pessoa considerando as influências Astrais sobre o exacto momento e o lugar do seu nascimento e que a cada ciclo ou momento é susceptível de sofrer alterações, por efeito de fenómenos ocorridos em constelações de Planetas que nos condicionam e ou intuem no nosso crescimento.

Observar os efeitos psicológicos que o desfolhar da suposta personalidade têm sobre a pessoa submetida à análise do Astrólogo.

Anuir que a Astrologia sendo uma prática ancestral da procura do homem pelo seu destino e por se tentar explicar a si mesmo a razão de ser de uma forma e não de outra, constitui um elemento fundamental na área do conhecimento pessoal e das ciências da mente e como tal não pode simplesmente ser ignorada, ou ostracizada.

 

22
Abr08

PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO - O DESFECHO

samueldabo

No quarto, Carla deitada na cama estreita do hospital. O rosto sereno. O coração palpitante a fazer o regresso, minuto após minuto. Os olhos cerrados sobre as pálpebras. Os braços caídos sobre o lençol, as mãos abertas. Carla, meu amor.

Sentou-se na cadeira que chegou para mais perto da cama e segurou-lhe a mão a recuperar do frio, já morna.

-Carla, grande amor da minha vida. Acorda. Esqueceste? Vamos casar. E os convidados estão à nossa espera. D.Rosa Silva já fez os poemas e mandou fazer a música. Vai ser uma marcha nupcial de Heroísmo a imacular a nossa festa. D. Chica , poeta embora, e amuada por não ser dela a poesia, acedeu a fazer os confeitos . Lala, a tua amiga Lala organizou as carnes e o peixe, vai haver cracas , tchiu , para que não se saiba, é um mimo para os forasteiros. Haverá vinho das lajes do pico, e o aperitivo dos Biscoitos.

Convidámos a Ilha inteira.

 As mesas na praça Velha , e dispostas, também ,nas transversais da rua da Sé, na vereda que rodeia a baía. E longas tiras de passadeira vermelha que percorreremos enlevados na áurea celestial do nosso amor. As flores, as mais belas, de todas as cores e perfumadas de aromas únicos.

Nós a sairmos da majestosa Igreja da sé, os vivas, as flores e outros enfeites atirados sobre  a nossa felicidade. São nove, as pétalas do sonho , que se esbatem levemente no teu rosto lindo. Tão Graciosa vais, no Pico das Flores, percorrendo a via de Santa Maria, esbelta no teu vestido branco e a grinalda , A Terceira que escolheste, sobre o cabelo negro como o Corvo. Abençoados que fomos pelo Senhor Santo Cristo dos Milagres de S.Miguel , esfusiantes de alegria, mais querendo esconder-nos no Faial da tua infância. E ali em frente, do outro lado do altivo Monte Brasil, a despontar da bruma, S. Jorge, irmã quase gémea deste Olimpo que nos acolheu.

Saudámos as pessoas, uma a uma em apoteose humilde e o mar em fundo, imenso, com salpicos de luz. No ar, o estalar dos foguetes em miríades de cor e sons estonteantes.

A terminar uma garraiada de touros à corda. Foi o delírio , meu amor e aí, nós fugimos.

E depois ,meu amor, quando à porta de nossa casa, te tomar nos meus braços, abrir a porta e deixar cair suavemente o teu corpo esbelto na cama que nos irá absorver e te beijar a sós, tu e eu.

E ver-te surgir resplandecente na suavidade da cor da camisa de noite que escolheste para a nossa noite, rosa leve, doce transparência a deixar antever as formas sensuais do teu corpo, meu corpo, como um só

O teu corpo, a pele macia, seda, veludo, e os meu lábios ferventes de tanta paixão, mas contendo-se, percorrendo, poro por poro, os pés delicados as pernas tão bonitas, o sexo rosado e húmido de tanta emoção, o aroma, o teu aroma que me excita, o umbigo, os seios já recuperados da tormenta, os mamilos, pequeninos, os braços, o teu pescoço e ouvir-te arfar, pequenos ais de volúpia, os lábios ansiosos a língua , e penetrar suavemente dentro de ti, e tu em mim, numa plenitude de vontades, aprofundando-nos, em busca dum prazer único e comum, a simbiose plena do amor.

Alberto levantou a cabeça e viu os olhos de Carla luzindo como estrelas, e um sorriso de esperança nos lábios róseos e entreabertos.

-Gostei tanto que não quis interromper, meu amor.

E os lábios uniram-se num prolongado beijo de plenitude absoluta.

19
Abr08

PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO . Cont.10

samueldabo

Voltara a chover. As viaturas de socorro puseram-se em marcha acelerada rumo ao hospital.

A policia colheu elementos do que restava do vestido de Carla. Era preciso manter o silêncio sobre o achado.

A audição de Santiago estava marcada para daí a dois dias.

Mariana chegara a Ponta Delgada, despreocupada, um tom arrogante no andar e olhando as pessoas com sobranceria. Pela sua mente, a imagem de Alberto. Fixar o rosto. Penetrar nele através dos olhos, sentir a dor pelo desaparecimento de Carla. Calcá-lo com um sorriso.

Mariana sentada na esplanada da Avenida no Centro Sol mar . A pôr ordem nas diligências . Relendo os termos da detenção. A sopesar os argumentos que pretendia infalíveis e amanhã mesmo, rebolar-se-ia com Santiago, na cama macia do hotel, a festejar mais uma vitória.

Alberto abriu os olhos e  procurou em redor, a tentar situar-se, lembrar o que acontecera, onde estava.

Olhou a cama vazia a seu lado, as paredes brancas, asseadas e um aroma a elementos desinfectantes, álcool .

Levantou-se, saiu do quarto, um agente de policia guardava a entrada.

-Estão sob protecção. Isto é, a senhora.

-E onde está?

-Levaram-na, julgo que para uma intervenção.

Alberto dirigiu-se a uma enfermeira que passava inquirindo-a sobre Carla. Ela foi informar-se e voltou com a informação que a Senhora estava em coma, ainda, que fizeram uma intervenção para resolver o traumatismo craniano .

Alberto saiu para a rua, um ar fresco matinal, o aroma das flores de mistura com o basáltico das rochas, das pedras de calçada. Passou pela policia para levantar o carro que queria entregar na rentacar .

Viu o vulto de Mariana num dos lados da rua, no passeio. Do outro lado, um homem de porte

atlético, uma barba rala, lábios finos e olhos pequenos, vivos , vigilantes. Era Santiago, pensou, tinha visto uma fotografia no jornal. Era ele. Mariana acenando-lhe para que viesse e ele a atravessar a rua por detrás de um carro que vinha descendente. A cheirar-lhe o cio.

O outro começa a atravessar a avenida e deixa cair algo que trazia na mão, abaixa-se rapidamente para apanhar o objecto. Alberto, os olhos  raiados de sangue fixos no personagem, acelera num impulso imparável, de todo irracional, para além de si próprio, como uma força superior contrária ás sua convicções de pacifista, de homem bom.

Fecha os olhos no momento do impacto, o estilhaçar do vidro da frente, e a imagem horrenda, surreal, de Santiago, a cabeça enfiada no pára-brisas em frente da sua própria cabeça. Os olhos dele, pequeninos como se tivessem dilatado. O sangue.

Mariana soltou um grito de pânico, e tapou os olhos, encolhendo-se. A multidão que se juntou, a policia.

Alberto saiu do carro combalido, teatralizando a surpresa, a casualidade do acidente. O tipo tinha parado a meio da travessia . E, para cumulo, saíra detrás dum carro que passava . Não tivera tempo de nada. Ficou sem reacção.

Olhou Mariana, que se recompusera, nos olhos. Sorrindo sem sorrir e dizendo no silêncio:

-vais ter que arranjar outro macho que te tire o cio.

Foi à policia declarar o acidente, entregou o carro na agência, a participação ao seguro. Livre.

Entrou na pastelaria e comeu uma Dona Amélia, tomou outro café, outra Dona Amélia. Já na rua, acendeu um cigarro e foi seguindo na direcção do Hospital.

 

 

Registed by: Samuel Dabó

13
Abr08

O ACTO DE CUSPIR

samueldabo

Cuspir, em Portugal, hoje, como ontem, é um acto de cidadania.

As pessoas cospem na sopa. Cospem nas ruas por onde passam. Cospem para o ar, mesmo avisados que o cuspo lhes pode cair em cima. Cospem da janela dos carros em andamento e atingem outros que ás vezes, até nem têm o hábito de cuspir. Cospem nos cinzeiros em recintos públicos. Cospem da janela de suas casas e atingem passantes incautos que se incomodam, barafustam, mesmo sendo, eles próprios, activos cuspidores por onde passam. Cospem com raiva.

E eu questiono-me das razões invocadas, os lenços de papel são caros e nem sempre há receptáculos, guardá-los no bolso das calças, na mala de mão, que nojo!

E atento nos ídolos da bola, futebol, por cá e por esse mundo fora, cuspindo com personalidade no relvado,  onde, por vezes, se rebolam em quedas aparatosas, envolvendo-se em cuspo com voluptuosa ansiedade. Cuspindo no adversário que lhe deu uma cotovelada . E tudo isto colocado em evidência, pelos média, duma forma seráfica, apaixonada.

Nas salas, públicas ou privadas, onde a televisão transmite o sórdido  espectáculo, adultos, jovens e crianças que absorvem as imagens e as imitam, excitados.

Os atletas cospem as frustrações e limpam os lábios à camisola. Os cidadãos cospem a inteligência e limpam os lábios ao lenço.

Cuspir é pois uma instituição social Nacional.

E eu digo,  que é tempo de cada um engolir  o seu cuspo, porque a saliva não é um bem perecível, é nosso, ajuda a hidratar , tem sabores e tem cheiros, além de germes que podem prejudicar os outros.

11
Abr08

PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO . Cont.8

samueldabo

Carla, arrancada de repente, com violência, sufocada pelo susto, num primeiro momento, logo ripostando com gritos e pancadas desferidas a esmo e sem um sentido definido, debatendo-se com quanta força possuía e era tão pouca, perante a força bruta da irracionalidade.

Deitaram-lhe um jacto frio de algo que não sabia o quê e quedou-se, inerte, o corpo oscilando nos solavancos do carro, desfigurada.

Acordou, sem saber onde estava, confusa, um ar fresco a entranhar-se na pele fina, a enroscar-se à procura de um agasalho, a boca seca, com um sabor acre a provocar-lhe agonias. O chão duro, basáltico, húmido e o ruído do mar batendo com fragor.

Lentamente foi recuperando a memória. Uma dor incómoda nas faces, no corpo e sobretudo nos pulsos. Sim estava atada com fios, ou nylon, ou corda. Tentou libertar-se, mas doía-lhe .

Decidiu gritar. Talvez alguém a ouvisse.

- AAAAAAAHHHHHH ..... AAAAAAAHHHHHHH .. AAAAAAAHHHHHHH ...

Uma pausa. Nada. Apenas o ruído do mar.

Tentou erguer-se. De onde estava via-se uma claridade difusa. Arrastou-se até à abertura daquele espaço exíguo . Mar e terra à vista. Em baixo a corrente forte fazia parecer que navegava num paquete enorme.

Voltou a sentar-se e tentou recuperar o sucedido.

Estava com Alberto, tão enlevados na descoberta dum grande amor, dizendo palavras ternas, aninhados um no outro, confiantes, entregues. Quis mudar para o lado do passeio e ele ,que não era próprio, que uma senhora quando acompanhada por um homem deveria ir protegida , do lado de dentro do passeio. E ela a esquivar-se, brincando e Zás .

Imaginava-o desesperado. Mas que sitio é este onde me encontro?

A luz difusa era o nascer da aurora que despontava, afastando as brumas para que o sol brilhasse. Carla voltou à abertura a avaliar o lugar. Sim era isso, estava no Ilhéu das Cabras.

Podia atirar-se à água, deixar que a corrente a arrastasse até terra, por milagre ou força oculta da natureza. Mas para isso teria de libertar-se da atadura. Como estava, seria uma morte certa.

Tentou arranjar uma saliência que servisse de fio cortante, mas só consegui ferir-se ainda mais. Os pulsos, ambos os pulsos, um ardor a arrancar-lhe gemidos.

Procurou uma posição mais ao jeito do corpo. Sentia-se fraca e desalentada. Num momento, a hipótese que iria morrer ali sem que ninguém desse por isso, assaltou-a. Desfaleceu, não sabe bem. Nem comer, nem água. O corpo dorido também por dentro, como se abrissem veios para a expurgarem do melhor que tinha. A vida. Sim amava a vida.

Quando voltou a si, o ponto luminoso tinha desaparecido. Voltou a gritar com quanta força ainda tinha. Nada.

Sentia os braços dormentes. Fome. Sede. Há quanto tempo estaria ali? Moveu-se, mudou de posição tacteando uma aresta, e outra. Tentou mais uma vez romper as amarras que se envolviam na sua carne. Insistiu, insistiu, insistiu. Fez um último esforço a ver o efeito e pronto, já está. Esfregou lentamente os braços e os pulsos. Tinha golpes com alguma profundidade, o sangue ainda vivo. Alberto, meu amor.

Levantou-se e mirou o seu corpo, sujo, nojento. Defecara, urinara enquanto amarrada, o pó, o suor. Evocou o Senhor Santo Cristo, O Divino Espírito Santo, Maria Vieira a mártir Virgem, canonizada pelo povo. a Arranjar forças, sem compreender ainda qual o objectivo de estar ali. Quem poderia querer-lhe tanto mal.

Relembrou a história duma amiga do Continente que tinha ido à praia com a irmã, em Carcavelos. E de como caíram nuns remoinhos de água que as arrastava sem que ninguém desse por nada. Lutaram contra as correntes. Lutaram. A irmã dizendo que a deixasse e se salvasse ela. Mas não, foi-lhe alimentando a esperança.

-Nada, nada que vamos conseguir.

E conseguiram. Desfalecidas e sós. Ninguém dera por nada.

Carla foi-se deixando escorregar pelas rochas do Ilhéu e mergulhou parte do corpo na água fria. Uma tábua grande, errante, aportara com a corrente. Podia sentir o fluxo da água arrastando as pernas. Tentou chegar à tábua  que batia na rocha e fugia no ímpeto da ondulação. Os olhos na tábua. A mão que se apoiava na pedra a deslizar. Num último esforço, soerguendo-se e num impulso, conseguiu agarrar a tábua. Depois, fincou os pés na rocha e impulsionou-se a tentar sair do raio de atracção do Ilhéu. Fez várias tentativas e nada. Começou a sentir frio, a roupa colada ao corpo. O Sol no pino da trajectória. Um último esforço, a conjugação com um momento de acalmia e viu-se arrastada em zigue zagues vertiginosos. A Ilha e o Ilhéu, o Sol. num rodopio enlouquecedor . Alberto, meu amor. Alberto, meu amor.

 

 

Registed by: Samuel Dabó

02
Abr08

PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO . Cont.5

samueldabo

Ao jantar, falaram de factos passados, acidentes escolhidos em momentos de procura. O embuste das palavras, a teatralização  estudada que nos leva a sentir, a acreditar.

Alberto falou da sua relação com Mariana. Da paixão violenta. Era bom fazer sexo com ela e no fim, sentir o bem estar das coisas conseguidas. Não ter reparado em como era possessiva. Apenas fazer sexo com ela. E acorrer a todas as chamadas. Até ao dia em que, confrontados com uma situação difícil , tudo se desmoronou. Era frágil o elo de ligação. O que eu queria era o absoluto, no amor. Conciliar o ser e o haver, numa absorção total das duas mentes, como uma só. Que se digladiam , se confrontam, se violentam, por vezes, como nós em nós, mas que se amam acima de tudo, tudo mesmo. Porque se confiam e esperançam a cada momento de vida, se respiram. Não fingir. Não há seres perfeitos. Saber gostar, amar as imperfeições do outro.

Carla deixara de comer, embevecida, com a ternura das palavras. A mão pousada sobre a mão dele como que a estabelecer um elo. E não se conteve.

- E que situação foi essa? Queres falar sobre isso? Meu amor! Como eu me sinto ir, liar-me no menino triste que ainda há em ti. Como eu te amo!

Alberto estremeceu. Em milésimos de segundo permitiu-se pensar que naquelas palavras não havia teatro. O ar doce de Carla. Os olhos a espelhar lealdade.

-Mulher linda da minha vida. Vamos viver o absoluto do amor! Amo-te tanto. É tal o prazer de estar aqui e ver a tua imagem, desde há dias, a tua imagem. Deslumbrante que me esqueci de te dizer quem sou, o que faço.

Alberto levantou-se da cadeira e deu-lhe um beijo sobre os olhos, quente e húmido e voltou a sentar-se sem deixar de a fitar e ela nele, como serpente e presa cada qual, o ser e o não ser.

-Sou livreiro. O meu pai deixou-me uma loja que vende sonhos. Mariana era jurista, fria, calculista. Sei-o hoje. Eu tenho um irmão que foi arrastado pelo sórdido lado da vida. Drogas pesadas. Roubou. Foi preso. O que eu esperava de Mariana era que o defendesse em tribunal. Que usasse todos os trunfos. Que afrontasse o sistema. Que fosse um eu nela e ela em mim. E ela recusou. Não queria manchar a sua reputação. Podia entregar o caso a um colega. Foi o fim. Acabei de deitar o que quer que restasse.

Nos olhos de Carla a luz, sem lamechas. Um sorriso doce de esperança. O belo e diáfano som da sua voz.

-E salvaste-o?

-Sim, está num centro de recuperação . Há já um ano.

Pagaram, levantaram-se e seguiram enlaçados, os corpos embatendo-se a cada passada,

um último olhar à Lua e ao reflexo sobre as águas calmas da baía, beijando-se, arrulhando e sentindo-se, como um só, o pulsar apreçado do coração.

Subiam a rua da Sé envoltos no quase silêncio pelo adiantar da hora. E Alberto, ao ouvido, num sussurro.

-Não tens medo?

-Oh! Não. isto não é Lisboa. É uma cidade pacata. Nunca acontece nada. E agora tenho-te, querido, para me proteger .

A noite a refrescar e uma ténue neblina a emprestar um ar soturno aos candeeiros de luz mortiça, emblemática duma cidade quase museu.

Alberto olhou em volta, a rua deserta. Vindos da Praça velha, dois carros em andamento lento. De cima nada.

Um dos carros parou, no preciso momento em que Carla mudou de posição e se colocou do lado esquerdo de Alberto. Da janela entretanto aberta, uma mão forte arrancou a mala de mão de Carla e arrancou na direcção das Covas.

Alberto, num impulso, deus alguns passos em perseguição do carro que, um pouco à frente, deitou pela mesma janela a mala , a mesma mala.

 Apanhou-a e voltou-se, com um ar triunfante, mas?...Nada. O vulto de Carla, debatendo-se, os olhos de pânico, no interior do outro carro que seguiu a alta velocidade, o chiar dos pneus na pedra polida da rua da Sé. O ar desesperado de Alberto, sem compreender, sem aceitar, sem querer acreditar, olhando ainda em volta, no espaço interior  do recanto exterior   da loja.

Tinha visto um policia junto à Caixa, correu em desvario. O policia também tinha seguido o desenlace do rapto.  Vinha a subir na direcção de Alberto. Tirou as matriculas porque lhe tinham parecido suspeitos. Iria tratar de tudo, fechar portos de saída. Aeroporto. Que tivesse calma. é uma questão de tempo. Estamos numa ilha.

continua

 

 

Registed by : Samuel Dabó /P>

 

 

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