"Na cama que fizeres te deitarás", era assim, a mãe autoritária, céptica, a dizer como um ferrete, uma maldição, um aviso que percorria o corpo, a mente e inibia na hora de sentir, de desejar,o deleite das aventuras sexuais antes do casamento, se queria ir de branco, o ramo de laranjeira,as grinaldas, o festim da igreja engalanada e a marcha nupcial. E sobretudo, não ser falada pelo outros, andar nas bocas do povo.
Eram colegas no escritório e ela ia casar daí a dias. Uma mulher na casa dos 28, já no limite da idade casadoira, limite a partir do qual uma mulher poderia ficar solteirona. Morena, estatura média,um rosto assimétrico,de onde sobressaiam uns olhos grandes, luminosos, denotando ansiedade, malicia sedutora e os dentes que não se usava corrigir, salientes sob os lábios carnudos, viçosos e virgens de beijos fogosos, à cinema, porque o namorado era púdico, de educação seráfica e achava que a posse total seria só dpois de oficializado o acto público da consagração.
Ele, o colega de anos de convivio, de trocas de piropos gentis, 18 anos, um jovem saído da puberdade, um imberbe que não atingira ainda a idade da razão, da emancipação oficial, uns olhos lindos, castanhos, leais, quase diria inocentes,um corpo a cheirar a homem, os lábios virgens de beijos, desimpedido de namoros, que não namorara até então, que se sentia preterido pelas raparigas em detrimento de outros mais afoitos, ou mais experimentados.
Há muito que se sentiam cumplices de toques provocados no decorrer do serviço em que se entrosavam as caracteristicas de cada um. Ela dactilógrafa, ele arquivista. Ela em pé debruçada sobre ele, por detrás dele, sentado, as mamas roçando os ombros dele, duras,estremecentes de sentires estranhos, fogosos, a levantar sonhos de noites atormentadas pelo desejo. Ele tenso, a absorver todo o fogo bom, inebriente que sentia, do corpo dela que não sendo o seu tipo de mulher inventado na solidão em que se questionava de ser possivel amar, um amor sublime de paixão, uma mulher inteligente, bela, linda que fizesse brilhar a tristeza em que se sentia mergulhado.
Ela, sentindo que ele tremia, que soltava energias, que não se manifestava, confiante na sua discrição, aventurando-e, esfregando-se, movia-se em volta, dava indicações,a saia rodada vermelho de fundo sob flores coloridas, o sexo dela sobre o braço em posição de cunha, e ele a sentir como que um vale, uma depressão que não conhecia,uma sensação absolutamente nova que não experimentaria de sua iniciativa por vergonha, timididez congénita. Finda a explicação, teria ela tido um orgasmo? ele sentia-se húmido, o sexo que ele conhecia bem de se masturbar no silêncio das casas de banho,demasiado grande para que não se notasse, saliente sob as calças, dorido, escondido. Ela dava uma volta sobre si mesma , repentina e iá-se, corada, os olhos mais brilhantes ainda, a voz trémula que dizia,.
_Pronto, meu lindo, se tiveres dúvidas,pergunta-me...
Ele seguia-a com os olhos doces, a aspirar e a reter o cheiro bom que vinha dela, um cheiro extasiante, de onde? dela, mas de que parte dela?...Intenso...
E lembrava-se dos cheiros parecidos, todos diferentes, mas parecidos, quando subia os degraus do eléctrico, ele atrás, a mulher de saias curtas, jovem, abrindo as pernas para subir, não de todas as mulheres, mas de uma ou outra, num momento...O cheiro a sexo.
E era esse cheiro intenso, quente, adocicado, apelativo de desejos de se consubstanciar nela mulher, ou só no sexo, como uma entidade autónoma do corpo, apenas o sexo e os seus odores.
Ele aproveitara o espaço grande da hora do almoço para se isolar na casa da repografia, onde só ele era costume entrar, prmanecer, embora as colegas o visitassem quando tinham uma urgência de reprodução de cópias a stencil, ou por um trabalho que demorava.Era uma hora boa para se masturbar, a porta fechada por dentro ,porque era um dia em que quase se sentia enlouquecer, parecia quetodas as colegas mais novas tinham uma luz estranha nos olhos e o olhavam gulosas, falando alto no silêncio do olhar, as saias rodadas que expandiam odores, os odores fatidicos que o exaltavam, que se perdiam no seu interior labirintico.
E ela veio,os olhos muito salientes, de fora das órbitras,os dentes brancos saídos dos lábios num sorriso de malicia, o vestido de tons verdes, flores brancas e amarelas sobre o verde mar, as mamas empinadas, sob o espartilho do sutiã. Entrou, fechou a porta e colocou-se na frente dele, a oferecer-se e ele quieto perante o absurdo da situação, absurdo para si que se julgava preterido, que não sentia amor, afeição, que não a tinha como o seu perfil de mulher.
_Quero que me beijes. Nunca beijaste uma mulher?
Ele sem saber o que fazer. Sim era verdade, não beijara ainda uns lábios de mulher, nunca tivera alguém nos seus braços, apenas o roçagar dos copos em momentos de acaso.
Ela abraçou-o e beijou-o nos lábios. Ele sentio um calafrio, uma ânsia de a ter total, sem saber como,a esfregar-se no corpo dela, as mamas duras no seu peito, os lábios nos lábos e ela a dizer-lhe que abrisse a boca ,que a deixasse chupar-lhe a lingua, que ele chupasse a dela, que se deixasse envolver nos movimentos de dentro da boca, como ela fazia, como ela se expandia nele e deixou-se cair no soalho de tábuas compridas, fogosa, delirante e ele a mexer-lhe no corpo,a atrever-se, as mamas dolorosamente duras , a querer tocar-lhe na carne, os mamilos e ela parou, que não, nada de carne, só os beijos, podia mexer-lhe por fora, do lado de cima da roupa e ele a navegar o corpo dela, as coxas. Os beijos exaltantes, O corpo dele sobre o corpo dela, o seu sexo , perdida a vergonha, sobre o sexo dela, retido entre a roupa, as cuecas babadas ,pegajosas,do lado de fora dela, por sobre o vestido, apenas a forma adivinhada, o contacto dos sexos adivinhados, sentidos, o aroma de dentro dela a envolvê-lo total , as mãos nas coxas, a tentar descer ao sexo dela, sentir o sexo dela, um sexo pela primeira vez, na ponta dos dedos, talvez masturbar-se nela, entrar num sexo , desvirginar-se...sentiu o sexo dela ,sob o vestido e as cuecas, um vale de deslumbrante prazer, por segundos....
E foi quando ela súbitamente se colocou de pé, um olhar reprovador, a dizer-lhe que estava noiva, que ia casar, que não a tomasse por leviana, que não contasse nada a ninguém, a chorar,mas que o namorado nunca a beijara como ela gostava, como eles se tinham beijado naquele instante, que se atrevera porque confiara nele, porque também sentia nele o desejo, mas era apenas um beijo total, inteiro o que queria dele. Era virgem e ia casar virgem dentro de dias.
E ele, surpreendido de todo, a prometer-lhe o seu silêncio, a acariciar-lhe os cabelos negros, curtos, arredondados sobre os ombros.
A olhar a saia que se movimentava movida pela aragem da passada, os passos dela em volta do seu olhar pasmado, ainda a interiorizar-se, se fora sonho ou realidade.