UM ABSOLUTO DE AMOR
- Porque me dizes que os meus olhos são tristes se os sinto altivos? Se são altivos que eu quero que os vejas, que os vejam!
Mas são tristes, porque te leio a alma que eles me permitem alcançar, penso, no silêncio que fizemos, que construímos na areia como castelo efémero das nossas brincadeiras de criança
A minha cabeça assenta sobre as tuas pernas e as minhas mãos percorrem-nas num gesto absortivo. Estou levemente inclinado de modo a absorver todo o teu cheiro. E é um sabor intenso a cheiro intenso, que me vem do interior de ti através do teu sexo que os meus olhos observam arfante, por entre as pernas que mantens abertas.
É uma noite quente de Agosto e a praia arde da azáfama dos pescadores, em lances sobre lances, porque o'peixe é escasso.
-Mas se sou tão alegre. Não me sentes alegre, o meu sorriso permanente. E amo-te, como podes ver tristeza nos meus olhos. Insistes e sorris.
Agitas-te e o cheiro recrudesce de intensidade. És tão bonita. Doentiamente bonita. muito bela, meu amor.
Sim o teu sorriso inquieta-me porque te acompanha desde que nasceste, ou desde o primeiro momento em que sorriste. E é estranhamente igual nas três outras gerações que te complementam. O teu sorriso que seduz quem ousa fixar-se nos teus lábios. Quando beijo os teus lábios, é um sabor a cheiros imprevistos, como quando beijo o teu sexo e sorvo de ti os fluídos libertos do prazer.
Mas os olhos, meu amor, refulgem da alegria dum momento e mergulham na tristeza da dúvida, quando de ti, vindo de dentro de ti, esbatem na incerteza do amor, de saber o que amas, a quem amas e como consubstanciar esse amor que sentes, que por vezes te sufoca de ardores imensos, na tríade de almas que te disputam.
- És louco! - dizes, e os teus olhos brilham no escuro. Há muito que decidi essa dúvida de que te falei em tempos. É a ti que eu amo. É contigo que quero viver a eternidade do que me resta. Realizar-me como mulher, a teu lado, sob o teu olhar apaixonado.
As tuas mãos alisam-me o cabelo húmido do cacimbo que cai, ou é do mar que a aragem traz a humidade que nos penetra docemente, porque é fresca, suavemente fresca.
Deitaste-te para traz e a minha boca procura de ti a fonte de tais cheiros e sabores que me inebriam e elevam-me ao ponto zero do pensar. Afasto a queca do teu sexo e beijo-te. O sabor a cheiro e o cheiro a sabor, trocados mas como um só, íntimos de mim, de nós,beijo e lambo e sorvo e tu, meu amor, irresistível, absorves de mim a seiva que se vai libertando a cada chupadela, fazes que mordes, divertes-te. Imagino que sorris, que cheiras igualmente de mim os cheiros e os sabores, que serão de teor diferente, mas que se compatibilizam em ti.
E estamos como um só ser, poderosos em nós, etéreos na paixão que nos absorve em fluidos de amor. Vens-te e eu venho-me em êxtase e num súbito movimento de amor, os nossos lábios voltam a encontrar-se e os beijos sôfregos que trocamos e em que se misturam os sabores do esperma e dos fluídos que libertámos, sabores que cheiram a amor de nós e em nós. Num absoluto de amor.