PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO - O DESFECHO
No quarto, Carla deitada na cama estreita do hospital. O rosto sereno. O coração palpitante a fazer o regresso, minuto após minuto. Os olhos cerrados sobre as pálpebras. Os braços caídos sobre o lençol, as mãos abertas. Carla, meu amor.
Sentou-se na cadeira que chegou para mais perto da cama e segurou-lhe a mão a recuperar do frio, já morna.
-Carla, grande amor da minha vida. Acorda. Esqueceste? Vamos casar. E os convidados estão à nossa espera. D.Rosa Silva já fez os poemas e mandou fazer a música. Vai ser uma marcha nupcial de Heroísmo a imacular a nossa festa. D. Chica , poeta embora, e amuada por não ser dela a poesia, acedeu a fazer os confeitos . Lala, a tua amiga Lala organizou as carnes e o peixe, vai haver cracas , tchiu , para que não se saiba, é um mimo para os forasteiros. Haverá vinho das lajes do pico, e o aperitivo dos Biscoitos.
Convidámos a Ilha inteira.
As mesas na praça Velha , e dispostas, também ,nas transversais da rua da Sé, na vereda que rodeia a baía. E longas tiras de passadeira vermelha que percorreremos enlevados na áurea celestial do nosso amor. As flores, as mais belas, de todas as cores e perfumadas de aromas únicos.
Nós a sairmos da majestosa Igreja da sé, os vivas, as flores e outros enfeites atirados sobre a nossa felicidade. São nove, as pétalas do sonho , que se esbatem levemente no teu rosto lindo. Tão Graciosa vais, no Pico das Flores, percorrendo a via de Santa Maria, esbelta no teu vestido branco e a grinalda , A Terceira que escolheste, sobre o cabelo negro como o Corvo. Abençoados que fomos pelo Senhor Santo Cristo dos Milagres de S.Miguel , esfusiantes de alegria, mais querendo esconder-nos no Faial da tua infância. E ali em frente, do outro lado do altivo Monte Brasil, a despontar da bruma, S. Jorge, irmã quase gémea deste Olimpo que nos acolheu.
Saudámos as pessoas, uma a uma em apoteose humilde e o mar em fundo, imenso, com salpicos de luz. No ar, o estalar dos foguetes em miríades de cor e sons estonteantes.
A terminar uma garraiada de touros à corda. Foi o delírio , meu amor e aí, nós fugimos.
E depois ,meu amor, quando à porta de nossa casa, te tomar nos meus braços, abrir a porta e deixar cair suavemente o teu corpo esbelto na cama que nos irá absorver e te beijar a sós, tu e eu.
E ver-te surgir resplandecente na suavidade da cor da camisa de noite que escolheste para a nossa noite, rosa leve, doce transparência a deixar antever as formas sensuais do teu corpo, meu corpo, como um só
O teu corpo, a pele macia, seda, veludo, e os meu lábios ferventes de tanta paixão, mas contendo-se, percorrendo, poro por poro, os pés delicados as pernas tão bonitas, o sexo rosado e húmido de tanta emoção, o aroma, o teu aroma que me excita, o umbigo, os seios já recuperados da tormenta, os mamilos, pequeninos, os braços, o teu pescoço e ouvir-te arfar, pequenos ais de volúpia, os lábios ansiosos a língua , e penetrar suavemente dentro de ti, e tu em mim, numa plenitude de vontades, aprofundando-nos, em busca dum prazer único e comum, a simbiose plena do amor.
Alberto levantou a cabeça e viu os olhos de Carla luzindo como estrelas, e um sorriso de esperança nos lábios róseos e entreabertos.
-Gostei tanto que não quis interromper, meu amor.
E os lábios uniram-se num prolongado beijo de plenitude absoluta.