O ACTO DE CUSPIR
Cuspir, em Portugal, hoje, como ontem, é um acto de cidadania.
As pessoas cospem na sopa. Cospem nas ruas por onde passam. Cospem para o ar, mesmo avisados que o cuspo lhes pode cair em cima. Cospem da janela dos carros em andamento e atingem outros que ás vezes, até nem têm o hábito de cuspir. Cospem nos cinzeiros em recintos públicos. Cospem da janela de suas casas e atingem passantes incautos que se incomodam, barafustam, mesmo sendo, eles próprios, activos cuspidores por onde passam. Cospem com raiva.
E eu questiono-me das razões invocadas, os lenços de papel são caros e nem sempre há receptáculos, guardá-los no bolso das calças, na mala de mão, que nojo!
E atento nos ídolos da bola, futebol, por cá e por esse mundo fora, cuspindo com personalidade no relvado, onde, por vezes, se rebolam em quedas aparatosas, envolvendo-se em cuspo com voluptuosa ansiedade. Cuspindo no adversário que lhe deu uma cotovelada . E tudo isto colocado em evidência, pelos média, duma forma seráfica, apaixonada.
Nas salas, públicas ou privadas, onde a televisão transmite o sórdido espectáculo, adultos, jovens e crianças que absorvem as imagens e as imitam, excitados.
Os atletas cospem as frustrações e limpam os lábios à camisola. Os cidadãos cospem a inteligência e limpam os lábios ao lenço.
Cuspir é pois uma instituição social Nacional.
E eu digo, que é tempo de cada um engolir o seu cuspo, porque a saliva não é um bem perecível, é nosso, ajuda a hidratar , tem sabores e tem cheiros, além de germes que podem prejudicar os outros.