NA ILHA TERCEIRA A PRIMEIRA- Parte 2
A estrada que liga A cidade da Praia à de Angra do Heroísmo, um piso bem cuidado, ladeada por pastagens em quadriculas rodeadas de pedras enegrecidas, o verde das árvores, as flores nas bermas a saudar quem passa com aroma e cor, hortênsias , orquídeas de tons aveludados e as vacas pachorrentas atravessando a via, indiferentes aos automóveis, cheirando-nos, majestosas .
Nas localidades intermédias, os Impérios de cores aguerridas, sobressaindo da tradicional cor da pedra do casario e dos monumentos de traça renascentista, que os abalos sísmicos vão poupando nas suas constantes investidas. E ao fundo, à esquerda, o mar na sua majestade , parecendo dócil à distância, o mar azul .
Tanto que ficou por ver. O Algar do Carvão, as grutas, a caldeira da cratera de Guilherme Moniz. Mas uma chuva miudinha, o tempo escasso, o respeito pela bondade da hospitalidade.
O meu primeiro passeio pela cidade de Angra, teve paragem obrigatória na pastelaria, à saída do largo fronteiro ao hotel, quando a rua começa a descer em direcção ao mar, no Alto das Covas.
O café, Delta de boa qualidade e um percurso guloso pelas iguarias, com destaque para as Donas Amélia e as Queijadas da Graciosa.
Descer a Avenida que desemboca no largo da Câmara e deter-me por momentos no edifício da Sé, entrar e ficar apaixonado pela sumptuosidade envolvente.
Chegar ao mar, a baía, o forte de S.João Batista, o Forte de S. Filipe, o Monte Brasil.
Descer até à nova Marina, orgulho dos Terceirenses, o restaurante, A esplanada a convidar um breve repouso a ouvir o murmúrio das ondas esbatendo-se nas pedras que formam a muralha.
Retemperar das emoções com uma refeição salutar na casa do peixe, provar o vinho dos biscoitos, o queijo fresco com o acre sabor vermelho, o ananás de sabor único ,a arranjar energias para atacar o monte que, em frente, me fazia negaças, como que duvidando da minha capacidade.
Subir o Monte Brasil, a pé, por entre frondoso arvoredo, povoado de ideias de mistérios, de encontros afortunados, de silêncios cúmplices e deter-me no local de vigias antigas, onde os baleeiros sondavam a aproximação inocente dos cetáceos e bradavam ás companhas .
Descer novamente a estrada serpenteada , atravessar a mata, descer escarpas até um novo posto de vigia desactivado e encontrar um par de namorados que se beijam ou se aquecem ao sol que entretanto se instalou em toda a plenitude.
O parque infantil de grandes dimensões, à Americana, preenchido de crianças felizes e descomprometidas.
Na residencial, um banho urgente.
Apanhar o ultimo autocarro para os Biscoitos o qual faria a última carreira de regresso. A delicia da paisagem marítima , as localidades rurais, o gado nos pastos em jeito de postal.
Nos Biscoitos, o mar com ondas e areal, o museu do vinho, os processos de fabrico e maturação. Provar. Um néctar. Comprar uma garrafa e sair a correr: O motorista ,fiel à palavra dada, a apitar, rompendo o silêncio de Domingo.
Jantar no Carolina do Aires e conhecer o mestre Chico . O peixe espada grelhado na pedra, o queijo fresco, o vinho do Pico, as Donas Amélia .
Descer novamente e voltar à casa do peixe, onde o som de guitarras e cantares juvenis, entoando baladas que me fazem lembrar outras descobertas, me atrai. Estão sentados, outros em pé, A baía com as águas espraiadas, uma brisa quente e húmida, a silhueta do forte e o Monte Brasil em crescendo, as luzes mortiças de candeeiros antigos.
Caminho ao longo da muralha e saúdo os pescadores de cana, linha, até ao bar no limite da estrada, na base do monte e tomo um outro café.
Volto aos cantadores, jovens à procura de encontros espirituais, de se acharem no turbilhão das oportunidades que vem de longe, a apaziguarem a fatalidade de estar numa ilha que não tem lugar para todos nos seus sonhos.
A noite soberba e tão ampla. Olhar da janela do quarto a perscrutar a escuridão do mar na procura de uma luz, um indicio de vida em frente, ao redor e nada. Escuro e o que é suposto ser o oceano imenso que nos cerca e defende.
Na avenida da sé, o frenesim dos automóveis, sobem e descem e voltam a subir porque parar é morrer.
A Adega Lusitana, a sopa dos deuses. Da AVÓ.
- Posso comer só a sopa?
O sorriso simpático da empregada, A alcatra cozinhada com amor. E novamente o queijo, o ananás, a Dona Amélia de sabores indiscretos.
É a hora de partir. Com que infinita saudade!
O aeroporto em obras de remodelação. O pequeno avião que nos leva para S. Miguel.
O adeus Terceira, com amizade, com amor, com paixão.
registed by : Samuel Dabó /P>