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tinha saudades de chover
bátegas fortes batidas pelo vento
a encharcar a terra de humidade
quando começa o cheiro a húmus é de enlouquecer
forte e crepitante o seu lamento
da chuva que procura na seca a saudade
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chove sobre o meu corpo inerte
a sentir cada pingo que de cima se desprende
imerso no silêncio mais gritante
anseio a canção da chuva que no piar das aves me desperte
de olhos fechados porque nada mais me surpreende
bátega sobre bátega no meu corpo infante
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digo-te escuta o som da chuva ao cair
a melodia do vento nas ramagens
as aves num murmúrio aconchegadas
ribomba estridente a trovoada os cães a ganir
a água escorre em torrentes selvagens
abre caminhos entre as pedras unidas das calçadas
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estás longe demais para atenderes
a minha sofreguidão de partilhar cada momento único
que quero reter por tempo indeterminado
chove pleno de emoções e de infinitos poderes
em cada ciclo que se abre impudico
nuvens negras que se tocam num tom desafinado
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chove sobre os teus medos
encorajo-te a apanhares gotas nas tuas mãos de criança
que escorrem dos beirais e goteiras dos telhados
mãos tão puras inocentes sem segredos
que as retém por momentos e ganham confiança
na alegria do sorriso em teus olhos abismados
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lembro-te que gota a gota engrossa a poça de água
onde os teus pés chapinhavam
que de poça em poça se formam riachos lagos
onde lançamos o sal da nossa mágoa
os lagos rebentam formam rios e mares que se desbravam
chove meu amor sobre os teus sonhos vagos
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corres corro de mãos dadas entre pingos
o coração arfando de novas ou renovadas emoções
dois pingos de gente num mundo desesperado
é o que somos nem sempre atentos a tantos dos perigos
que os sonhos avivam em estranhas canções
canto-te da chuva a esperança dum mundo fertilizado
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autor: jrg