27
Ago11
EM MEMÓRIA DE... AIDA COUTO!...
samueldabo
EM MEMÓRIA de...
AIDA COUTO!
era uma dactilógrafa experiente
escrevia a duas mãos sem olhar
viúva culta de viver apaixonada
um olhar doce meiga sorridente
morava em Lisboa longe do mar
de onde eu vinha d'alma alvorada
talvez o meu cheiro incomodasse
meus dentes ao sorrir enegrecidos
a que faltava o uso do dentífrico
meu corpo a pedir que o lavasse
sem hábitos de higiene conhecidos
pobre e tímido sonhador idílico
eu era o que então se chamava
de paquete moço das entregas e recados
e abri a minha mente à alma dela
lavar os dentes o sovaquinho que suava
as partes púdicas os pés cansados
todos os dias a virar a vida tão mais bela
o falecido seu marido arquitecto
deixou um espólio de vestir a condizer
roupa fina que ficava um primor
no meu corpo de retalhos insurrecto
a ganhar brilho de amanhecer
assim lavado e vestido com rigor
com ela aprendi que a minha imagem
era eu quem tinha de construir
voltei à escola cresci em entendimento
tinha fome de saber inda selvagem
li dos cinco continentes o pensar e o sentir
conheci lugares e povo meu alento
aprendi a repartir meus excedentes
a não me alienar nem ter fortuna
não fosse a de colher humanidade
trazer os olhos limpos sorridentes
amar amor da alma livre oportuna
a distinguir o sonho da realidade
não fora esta senhora tão emérita
resgatar minha alma empobrecida
dentro dum corpo rico em fantasia
não teria aberto a mente e a poética
que esgrimo de aprendiz nesta vida
partilhando amizade amor e poesia
autor: jrg