Quando a tua voz na discussão se altera e grita
Som estridente que gera confusão e fere
Onde a alma amante que te sente e se agita
Saber que é efémera a revolta que o corpo gere
Ao discutirmos dilemas palavras malditas
Revolve-se a alma no corpo a quente
Palavras que ecoam entre palavras quase infinitas
Até que a calmaria nos sossega a mente
Terá a ver com o momento em que nasceste e eu nasci
O ano o mês os genes que nos dão a consistência
Ou é do saber sem preconceitos que contigo discuti
E do respeito que temos ao sermos na nossa existência
Quando discutimos os olhos tensos alvorotados
E nos dizemos os lábios em trejeitos fartos um do outro
Se saímos em busca de solidão amarrotados
Logo a doçura de nós invade o coração afoito e douto
Faz quarenta anos que te amo e nos gritamos
Gritos que fortalecem nossos desejos
Depois do grito fazemos sexo e nos beijamos
Entre silêncios gritados nos teus beijos
Quando te calas imagino o som do grito sem gritar
A vida deificada fica suspensa de valor
Inventamos factos discordantes entre o sono e o despertar
Na labareda dos sonhos que alimentam nosso amor
Porque te amo sem conscientemente te adorar
Porque te sinto inteira e pura em mim
Sou teu vassalo quando me gritas sem te avassalar
És o meu alimento gritante até ao fim
Autor: JRG