SER SENDO... OU TER SIDO...
Abri o meu peito ao mundo escancarado
Deixei que se soltasse o grito do poema
Para vos dizer o quanto fui ignóbil desgraçado
Por não saber da vida ler o douto tema
Nasci menino num lugar ermo desolado
Cresci por entre gente absurda matagais
Ao fundo o mar profundo manso alterado
Atrás os montes da falésia e os pinhais
Namorei lindas meninas que me enjeitaram
Por serem estultas descabidas as pretensões
De querer amar meninas ricas que almejaram
Outros príncipes para engodo das paixões
Fui cultivando em mim romanceada personagem
Que alterasse o estilo o rumo impresso visceral
Criei um ser de novo tipo excelso na alma e imagem
E fui à guerra perdido sem saber que fim o meu final
Levei amor e sonho envolto em doce irrealidade
Aprendi da morte que era um desfecho imaterial
Sobrevivi e fui amante de uma mulher a lealdade
Que foi de mim amor e mãe culta luminosa virginal
Sou pai, avô, menino ainda, trabalhador incansável
E do amor sou a paixão continuada eternamente
Desleal um dia e vil na dimensão de criança indesculpável
Fui sórdido em trair a confiança a jura ardente
Abri o meu peito arfante e desnudado
O poema rugiu partiu-se em mil e um bocados
Expandiu-se solitário menino atribulado
Cansado de ser gente séria de tais cuidados
Autor: jrg