A UM DESAFIO DA J. DO BLOG SOUMINHA
O desafio é para que leiam. Se são muito jovens, leiam o que puderem, procurem estilos, conteúdos, formas de dizer, enredos. Excitem-se com os conhecimentos do passado, o romantismo...Não temam os autores profundos que nos revolvem as entranhas, que desmistificam conceitos inventados para nos castrarem face à realidade. E a realidade é nada. Não sabemos nada, mas o que formos sabendo de nós vai-nos perpetuando este sentimento de felicidade, de alegria de saber de ir sabendo...
Não vou atribuir lugares de ordem aos três livros que se pede no desafio, porque são todos primeiros.
Desde logo, ALEGRIA BREVE, de Vergilio Ferreira, uma obra que pode ser um romance ou uma dissertação sobre o homem numa dimensão extensa da sua singularidade face aos elementos.
A obra coloca-nos perante a possibilidade da solidão absoluta. Um homem, uma mulher e um cão, são os últimos habitantes de uma aldeia perdida entre fragas, para além das quais, fragas, cadeia de montanhas, florestas de coníferas, a vida continua.
E o homem reflecte sobre si no dia em que enterra a sua mulher, debaixo da velha figueira onde ela impusera que o fizesse, como último desejo.
O cão que ladra aos fantasmas que assomam nas portas escancaradas da aldeia. E ele, o homem, enfim só, infinitamente só, a visitar casa por casa, os nomes dos que lá habitaram, que influíram na vida dele, a evidenciar-se ele, como a essência da aldeia ou do homem que é, porque sabe que há vida, do lado de lá do vale em que se encontra...
E MEMÓRIA DAS MINHAS PUTAS TRISTES, de Gabriel Garcia Marquez, que eu interpreto como uma ode ao amor na sua pureza mais sublime.
Um homem de 90 anos que nunca amou uma mulher ou um outro homem. Ter-se-á amado a si próprio? Que nunca se sentiu amado. Viveu sempre em indiferença face a este sentimento tão belo. Satisfazia-se de sexo, enquanto necessidade biológica, em casas de prostituição.
No dia do seu aniversário, ano 90 da sua existência, ele decide oferecer-se uma virgem como prenda, uma prostituta iniciada e recorre a uma anfitriã do negócio, sua velha conhecida.
A menina é bonita, asseada, 16 anos? o quarto lúgubre e repleto de histórias de sexo, de dramas de impotência, de satisfações irracionais.
Ela despe-se e deita-se sobre a cama. E ele fica-se a olhá-la, as pernas bem torneadas, as ancas, os pelos sobre e em volta do sexo ainda virgem, o umbigo perfeito, as maminhas rijas, como botões de rosas, os lábios com um leve tom de rosa, os olhos amedrontados a ganharem confiança. Experimenta a sensação dos aromas, o cheiro do corpo, de dentro do sexo. Não lhe toca, e ela adormece. Ele coloca as moedas ao lado do corpo, como sempre fizera e remira-a em toda ela, de fora dela. A sua alma a interiorizar um sentimento profundo, desconhecido. Adormece e quando acorda, ela tinha desaparecido.
Havia uma rusga por toda a cidade sobre as ilegalidades do comércio do sexo. E ele em desespero bate as casas que conhecia, que frequentara, em busca da menina que amara, que começara a amar, que o ensinara, ou desabrochara dele, o amor...
E a fechar, A VIOLA ,de michel del castillo, onde o autor procura evidenciar a besta que existe na pessoa humana, em cada um de nós, que permanece em nós adormecida, por vezes e de como ela se solta, nos transforma, em momentos de viragem da nossa subconsciência, ou provocada por factores externos, ou de nós cansados de nos vermos reflecidos como um não ser, ou provocados pela ignorância de agentes que nos são próximos, intimos...
Gostava de saber os eleitos literários de: