A NETA
É linda. Direi que é bela no seu conjunto absoluto de genes. Porque além de linda tem um sorriso genuíno e expressivo do que é na sua essência de si. E a voz soa musicada de dentro em silabas concretas e afirmativas do seu querer.
Ter visto a eco onde aparece disforme, quase monstro, e adivinhar, sentir, a transcendência do que virá, porque a sentimos no bater apressado do coração. E senti mo-nos nós lá, na totalidade de nós porque já não temos outra utilidade.
Estamos no limite de ela ser, porque somos a última referência tendo sido a primeira, dela no pleno da vida que lhe surge em emoções de alegria.
Ainda não há a dor. É apenas um ser indefeso de per si, que se sabe e sente defensável. É um ser a apreender tudo que ouve sente, vê e mexe. E vê-la revolver o que interioriza, reflectir já em si as impressões que lhe chegam que absorve com ligeireza, a interrogar-se quando interroga, e a transmitir de si a imagem da inteligência evolutiva.
Primeiro as letras, uma a uma, os números a que foi juntando afirmações. O dó, ré, mi em entoação musical que te arrancava sorrisos, o tá tá té té ti ti...O b a ba e por diante até ao hoje que contróis as palavras já em pré-conceitos do ser que cresce no teu corpo mimado de menina..
Lembro o esbracejar dos braços como se quisesses voar e as mãos batendo no tampo da mesa a chamar a atenção para a evidência de ti. As tentativas de gatinhar, mas movendo na direcção da retaguarda, as mãos a empurrar o corpo e não os joelhos e os teus gestos pela frustração de não seguires o rumo que te indicávamos, ou seria porque era a ti que competia traçar o rumo e não a nós tão sábios a aprender-te de nós.
E naquele dia em que nos reencontrámos, na praia, e ensaiaste os primeiros passos e nós pensámos que o fizeras pela emoção da nossa visita e batemos palmas, todos e tu, exultante da alegria de seres capaz.
Minha querida menina, meu amor, meu milésimo de gene, de mim. O afã de te preparar para o mundo que vais ter que enfrentar. Tornar-te poderosa na tua essência para que o corpo, o invólucro que te acoberta a alma não te traia nas emoções do caminho
Agora já andas, corres e fazes tropelias. Mas tens a dimensão da humanidade que vais ser e preocupas-te comigo, com o que eu não sei de ti.
Queres mandar nas brincadeiras e experimentar de tudo o que vês aos grandes. Tens pressa de ser grande, como eu tive e não sabia como sei que ser grande não é ser maior
se não se souber o que se é.
Meu amor de menina, quero que saibas que és a segunda mulher da minha vida, e ainda és só uma menina.
Espero por ti. Sempre