MEMÓRIAS DA GUERRA (D)
Era uma menina de olhos grandes e escuros, corpo franzino, esguio e uns seios pequenos a despontar no peito desnudo. Frágil andarilha nas extensas bolanhas circundadas de capim alto e protector. Era uma figura ágil, graciosa, bem enquadrada na emblemática paisagem, ao fundo, nos seus nove dez anos de vida.
O amendoim é uma fonte importante na riqueza da Aldeia, cabendo às mulheres essa tarefa árdua da apanha, antes que as chuvas cheguem.
O furriel Delfim, há muito que observava Assumane Baldé. Seguia-a sempre que o ócio o permitia. E lá estava ele, olhos lascivos. Ausente da realidade deixada há muitos meses na grande metrópole.
Era um jovem magro, a três morena, do sol impiedoso que surgia todos os dias com a mesma intensidade. Tórrido.
Os olhos fixos na presa indefesa que se movia em passos curtos, o pano subido, entreaberto, deixando entrever parte das coxas e adivinhar o fruto da gula de Delfim.
Tinha-a contratado como lavadeira e quando Assumane ia entregar a roupa, por mais de uma vez, tentou arrastá-la. Ao que a menina, abrindo muito os olhos de espanto, recusava dizendo:
- Não, meu furriel. Sou bajuda.
Agora ela estava ali, ao seu dispor e sem gente à vista. Foi caminhando na sua direcção.
"hoje não me escapas", proferiu entre dentes.
Escondido, pelo capim, Manel , o básico, observava os movimentos de Delfim, e , mexia-se ,rebarbativo., de olhos esbugalhados.
Assumane,distraida , só deu pela presença de Delfim quando este a agarrou pela cintura e a deitou por terra.
-Não, meu furriel, sou bajuda.
IIndiferente , Delfim procurou satisfazer a torrente de desejo há muito contida, arrancando o pano com sofreguidão animal, sem afectos. E penetrando, rasgando o anus estreito de Assume. Arfante, decrépito de razão, numa mistura de sangue e esperma.. Tromm .
Uma explosão, e outra. Num momento tudo se apagou na sua mente febril, deixou a menina inerte e fugiu, ora correndo ora rastejando, para o abrigo do quartel.
Assume, ali ficou por instantes, aparvalhada pela violência sofrida, sem perceber o que se passava, levantou-se tentando ver alguém que lhe valesse, chorando, chorando. Tromm , Tromm , novas explosões a circundar o quartel, uma das granadas caiu no meio da parada. Soldados correndo aos seus abrigos. Vozes de comando. Mais tiros, explosões, atropelos. Medo.
E Assume sozinha, no exterior do quartel, sem forças nem defesas, chorando, chorando,apanhada em fogo cruzado, sem tempo para viver. Até que, como se vinda de Deus, uma granada de morteiro desfez o que restava do seu corpo franzino de menina.
registed by: Samuel Dabó