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SamuelDabó

exercícios de escrita de dentro da alma...conhecer a alma...

SamuelDabó

exercícios de escrita de dentro da alma...conhecer a alma...

23
Mar08

S.MIGUEL, AÇORES - O NORDESTE

samueldabo

Hoje o sol pregou-me uma partida de menino mimado  e irresponsável. Enredou-se em neblinas maviosas e pertinentes, deixando que miríades de lágrimas de outras tantas saudades ululantes, se abatessem nos corpos desafectados de protecção adequada.

As Queijadas da Vila, após o pequeno almoço madrugador. O café, Delta, claro, a despertar renovadas atenções. a Afinar sensibilidades parecendo exaustas, mas que renasciam, qual Fénix, temperadas pela visão dos fieis que se dirigiam à primeira missa da manhã, indiferentes à morrinha, de rostos abertos e confiantes.

Fiz a viagem de Ponta Delgada ao Nordeste na carreira, a primeira da manhã percorrendo a estrada pouco movimentada e readmirando paisagens e recortes, a fixar imagens e momentos, as vacas nos pastos, as carrinhas que transportam o leite, pequenas povoações e gente que entra, gente que sai, as crianças, os jovens a caminho da escola e eu a lembrar-me de mim.

Timham-me falado do Nordeste como uma miragem num deserto rodeado de oásicos sistemas floridos e verdejantes, numa abordagem surrealista da visão, de quem chega e se depara, com um quadro pintado em fervorosos momentos de arrebatação criadora.

A povoação de casas típicas , arejadas, a casa museu João de Melo, o jardim, o café onde me resguardo e abasteço de iguarias.  O miradouro sobre o mar, a rocha a pique, o verde a envolver as casa em cima, num clima de silêncios, voltar ao miradouro, e novamente o mar estanhado, verde chumbo, denso na voragem da maré, a igreja.

Um táxi, carro de aluguer, parado num lugar reservado. Procuro com os olhos o motorista e não vejo ninguém, até que ouço uma voz, vinda de onde?

-Bom dia, precisa que o leve.

Olhei a figura, magro, rosto bonançoso, olhos que reflectem amor, lealdade a procurar saber ao que vinha. Como te chamas, amigo?

Disse-lhe ao que vinha. Desvendar a meus olhos o infinitamente belo. A pretensa miragem. A descoberta de mais uma das maravilhas açorianas, mas que o tempo, chuviscoso , não estava a colaborar.

Os olhos dele iluminaram-se num clarão de empatia a mandar-me entrar.

- A viagem até à cidade de Povoação são vinte euros, o resto é por minha conta.

Homem grande e destemido, homem bom. Como te atreves a acreditar que acertaste em tomar-me como amigo?

Pelo caminho, também eu confiante, sem saber das rotas, adivinhando boas intenções, foi-me falando de si, dos tempos difíceis da emigração na América, o trabalho quase esforçado para amealhar o suficiente e voltar. Nã que ele não era dos que se bastavam com dinheiro. Ali é que era a sua paixão e comprara o táxi, algum dinheiro de parte, uma vida sonhada nas refegas erradias, naquele deserto apaixonante, apaixonado.

-Olhe, ali, aquelas vivendas no alto da montanha, são de pessoas importantes do Continente, casas de férias.

E eu a imaginar, para mim próprio, os senhores importantes do Continente a julgarem-te parolo, imbecil, por teres trocado a vida faustosa das Américas por um lugar pasmado de beleza. E a contextualizar-te comigo.

Parou o táxi junto a um jardim que abarcava uma vasta  área em planalto, delineado de formas graciosas, ramadas em túnel, palmeiras anãs , flores, o vermelho, o azul, o rosa,  o lilás , o  amarelo e os verdes, numa deambulação de cores e odores. Numa simbiose de deuses tocando trombetas melodiosas e eis a placa de homenagem ao homem e à beleza reunida num feixe, com o mar por fundo, escarpa a pique, o poema:

                                          Toda a beleza é beleza

                                           Para quem na beleza crê

                                           A beleza é só certeza

                                           Conforme a vista que a vê

 

                                           Silêncio de calma

                                           Mudez carinhosa

                                           Afagas muralha

                                           Na noite nervosa

 

                                           Silêncio que alentas

                                           Meu sonho desfeito

                                           Ai como atormentas

                                           O mal do meu peito

                                           

                                           E quando te calas

                                           Calado me dizes

                                           Que as horas sem falas

                                           São horas felizes

                               

De João Teixeira de Medeiros

 

Embevecido por tanta beleza, recolho-me junto ao murete que limita a queda abrupta  e desvenda plena de epopeica visão o mar imenso, ondulante e a esfregar-se, preguiçoso,na base das rochas  que já foram suas amantes e agora, só enamoradas.

O homem do táxi e eu, em silêncio, ambos sabendo que amávamos a mesma substância mítica e sem ciúmes nem desavenças fruíamos desse amor, partilhando emoções vindas do sonho de sermos homens.

 

 registed by: Samuel Dabó

23
Mar08

S.MIGUEL,AÇORES, TERRA NOSTRA

samueldabo

A entrada no parque Jardim Terra Nostra mergulha-me em silêncios profundos à medida que vou avançando e descobrindo imagens absurdas de tamanha beleza botânica, de recantos criados por artistas de outros mundos mais perfeitos.

O Sol no zénite a refulgir raios cintilantes através das folhas de  árvores centenárias, altivas e lindas de grande e pequeno porte. Pássaros que cruzam a densidade do ar em brincadeiras atrevidas, poisando nas ramadas, ou abeirando-se dos lagos e sobre extensas camadas de nenúfares , saltitarem de uma em outra e chapinhando a água morna e quieta.

As flores de cores absolutas, exóticas, múltiplas de género e efeitos sibilinos, transformando os nossos olhos em mirabolantes rodas giratórias.

Subimos carreiros, contornamos lagos e riachos, e voltamos a percorrer, como se de um labirinto que não quiséssemos encontrar o fio.

Os meus olhos emotivos, a voz abafada, tímida , afónica, contrastando com a grandeza que sinto de fazer parte, por um momento, de tão Edílica paisagem.

No cimo de uma elevação, por entre a folhagem de palmeiras e outras maravilhas arborícolas cujos nomes não registei, o edifício adaptado a hotel de grande magnitude arquitectónica a lembrar um conto de fadas, infância, lucidez adormecida. Só pode ser um sonho..

A piscina de águas lamacentas, sulfurosas, onde adultos e crianças se banqueteiam em movimentos ablativos da inércia citadina.

É um ambiente indescritível . Não é possível traduzir em palavras a cor e o enquadramento que os artistas se permitiram para criar uma atmosfera única de emoções sublimes e apaziguadoras.

Venham ver!.

Saímos pela mesma porta e lembrei-me, de repente , que tinha estranhado a entrada paga!... e sorri de felicidade.

 

 

reisted by: Samuel Dabó

22
Mar08

S.MIGUEL,AÇORES, AS FURNAS

samueldabo

"Com um brilhozinho nos olhos" (Sérgio Godinho), a subir a montanha por estradas sinuosas de bom piso e vegetação rica e variada, a ver o mar de um e outro lado da Ilha, a saborear aromas e sabores que nos entram em catadupa a cada inalação.

As furnas, expelindo vapores diáfanos e sugerindo imagens grotescas de vultos que se movem do outro lado de nós, em frente. O cheiro a enxofre . A água azeda que escorre da bica que bebemos para curar enredos e invejas trazidas de longe. O borbulhar da água fervente  brotando do chão e elevando-se em espessa névoa de que nos deixamos envolver em brincadeiras gaiatas. A caldeira num ruído cavo de agonia, um estertor de vida a estremecer o chão que pisamos. Água e lama fervem e extravasam do interior da terra e é como um prato de farinha no clímax da cozedura. A sensação estranha de pensar que pisamos uma camada fina de solo, pronta a estalar a todo o momento, por um qualquer fenómeno que não conhecemos nem dominamos.

 Com os sentidos em êxtase continuo, desço à lagoa de águas mansas em cujas margens escavaram, aqui e ali, buracos onde a terra treme e expele vapores em surdina, que as pessoas utilizam para a confecção do famoso cosido da furnas.

O cozido das Furnas é um banquete de deuses, confeccionado ao vapor, deixando entranhar um leve odor a enxofre que o torna um manjar a repetir. O sabor único das carnes, o gosto dos legumes e dos enchidos, a envolvência da paisagem.

Um passeio digestivo pelo parque Terra Nostra , era o convite, em jeito desportivo, para obstar a uma qualquer indigestão, não sem antes beber um pouco mais de água azeda que, dizem, ajuda a digerir tão farto repasto.

Pelo caminho, Zé Carlos foi-me dizendo que as Ilhas que compõem o Arquipélago são como bairros de Lisboa, ciosas das suas belezas particulares e exigentes na implementação de estruturas, rivalizando umas com as outras e todas com S.Miguel .

- Nós, em Ponta delgada dizemos que os Terceirenses são como os Alentejanos. São indolentes. Só querem festas e mordomias.

Os Terceirenses dizem que em S.Miguel os homens têm a ponta delgada.

E eu a lamentar não ter visitado o Algar do Carvão, nem ter visto as célebres corridas de touro à corda na Terceira e  a não ter oportunidade de sentir o fervor e a religiosidade destas gentes nas festas do Senhor Santo Cristo do Milagres, ou as Festas do Espírito Santo nos Açores: factos que me ajudariam, por certo, a entender este espírito acolhedor e de grande humanidade.

Chegámos à porta do Parque Terra Nostra , cuja visita é paga. Estranhei. Pagar para visitar um parque?

 

 

registed by: Samuel Dabó

 

22
Mar08

S.MIGUEL,AÇORES, O SONHO DE ESTAR VIVO-Parte II

samueldabo

A garrafa vazia/de Manuel Maria. A voz rouca, dolente, de Zeca Medeiros, no Cantinho dos Anjos, café rente à rua, na esquina de quem sai do Alcides, onde o Sr. José grava com mestria e paciência Franciscana, o nome de clientes afectos em taças de vinho ou licor, balões de Whisky e os oferece agradecendo a visita . A paixão de ser pessoa.

A decoração a lembrar outros povos, vitórias e derrotas, evidências de culturas, mimos de simpatia Açoriana , num ambiente acolhedor onde bonitas raparigas a sós ou em grupo falam de realidades e de sonhos e soltam gargalhadas diáfanas de alegria esfusiante, construindo certezas no perfume dos aromas.

 Que povo é este? Que cruzamento, ou raça pura?

A bela Estela, briosa, de aspecto grave, atento, responsável no atendimento de e sobre cultura  e que se diverte à noite em paródias inocentes de procura.

A divina Venilde , linda, o nome a sugerir veleidades de Olimpo, mas terrena, sonhadora e as partidas que a vida lhe pregou. Marco! Como te meteste, meteram nisso? Que tragédia ou ambição te levou ao tráfico, a destruir em lágrimas de sofrimento e dor, os sonhos encantados da mulher que te amava? Do povo que te gerou? As noites pela madrugada na explanação de projectos limpos de droga!...

O Gil do Couto, homem grande na sabedoria humilde sobre a superficialidade enfatuada. A paixão na crença dos milagres do Senhor Santo Cristo. A lisura de uma personalidade sã e conjugativa de amores comuns. O filho Francisco e a pesquisa dos fundos Oceânicos em busca, talvez de Atlântida e Znaida , artesã, o sentido prático da vida, taxativa.

A visita à estufa onde crescem, eu diria milagres gustativos, os saborosos ananases . Abastecer a garrafeira com o licor afrodisíaco do seu néctar.

O dia, onde o Sol e a humidade confraternizam, convida à procura de ambientes mais frescos.

O aroma especifico das infusões naturais. A única plantação em toda a vasta Europa. Os processos manuais de escolha, purificação e embalagem.

A Ribeira Grande. A escavação natural das água vindas da serra em direcção ao mar. O aproveitamento magnifico das margens, convertidas em lugares aprazíveis de lazer e convívio entre povos. As pessoas. Clara, a contagiante melodia das palavras.

E Rabo de Peixe. O lugar maldito, onde a vida se faz ao mar. Tido como perigoso, povoado por inadaptados da comum das gentes da ilha. Bêbados , arruaceiros, oportunistas que obrigam os filhos a não faltar à escola para não lhes cortarem os subsídios estatais, pescadores invejosos, ladrões, piratas. Tudo isto me foi dito. Mas, a avaliar pela obrigação de mandar os filhos à escola, tenho esperança na regeneração.

 

 

registed by: Samuel Dabó

 

21
Mar08

S.MIGUEL,AÇORES, O SONHO DE ESTAR VIVO-Parte I

samueldabo

O pequeno avião inicia a descida e já se vislumbra a escarpa de rocha , magnífica de força, em cujo topo se situa o aeroporto.

Em baixo o mar ataca a estrutura natural com a doçura das ondas espumando de alegria alvoroçada. O meu peito a transbordar de emoções vividas na Terceira.

A espera pela bagagem, adivinhando originalidades nos outros, a ansiedade daquela jovem, o homem de negócios impaciente, rostos abertos, diálogos leves, olhos brilhantes de vida.

O dia quente e húmido, odores marinhos a requerer a minha capacidade de adaptação. Afinal já estive em África e na Guiné o sol era mais intransigente.

A residencial Alcides, o bife especial duma carne macia e sem igual, o delicioso ananás.

O passeio a pé pelas ruas de pedra preta, reluzente. Rostos amigos de gente anónima que se cruza, que pára para comunicar, sem pressas. Caminhar até ao mar. A Avenida marginal com palmeiras e largo passeio. A baía calma e os barcos acostados no cais. A muralha que defende a cidade e esconde o mar

A visão sublime duma espécie nova de mulher: a mulher de cabelos loiros, tez clara e olhos verdes de um verde irisado de outros verdes, como cristal colorido, esmeralda de veios intrusantes , ou outra preciosidade que não acho na memória. A simbiose entre o mar, o verde das árvores e a riqueza dos templos? Onde andam os pintores?

E ali fiquei, abstraído do todo que me envolvia,, seguindo a imagem delicada e segura em passadas confiantes, qual deusa idolatrada. De uma beleza contagiante de mulher, divinizada por mim, naquele instante. Basbaque continental envolto em perfumes sobrenaturais. Como queria registar a tua imagem em papel ou fita de cinema. Que medo eu tenho de me perder na memória. Hoje aqui ficas, para que conste.

As pessoas de Ponta Delgada, já tinha constatado na Terceira, são de uma afabilidade que ultrapassa a mera educação da hospitalidade. Criámos empatias e intimidades conluiadas na disputa de quem me levava ali ou além. Os lugares imprescindíveis Os almoços, os jantares, as noites em diálogos do saber e da solidão permitida.

Ganhou o Neves da papelaria, tipografia. Portugal aqui, liberto de preconceitos. E seguimos viagem por estradas pitorescas de verdes e encantos. Parámos num miradouro para que eu visse em absoluto na sua magnitude exuberante de beleza natural, As Sete Cidades, o contraste entre o azul e o verde das lagoas, a pequena cidade para lá do monte junto ao mar.

Apanhar umas quantas pedra  ume que abundam nas margens, como ovos deixados ao abandono. Aspirar os aromas, a sensação de liquidez ambiental e voltar, rumo à cidade.

Passear à noite, na marginal, as luzes lá à frente de outra cidade, Vila Franca e deglutir-me na Sol mar com as queijadas da vila. Junto ao clube naval, num terreiro em frente, jovens estudantes divertem-se nos festejos do inicio do ano académico. Gritos e cantorias, o som das guitarras na noite calma de S.Miguel .

O pequeno almoço, o leite, o queijo, os Açores a entrarem nas minhas entranhas, a adoptarem-me.

 Admirar a beleza da igreja matriz. Sentir a religiosidade de um povo aqui cercado e com uma história de abandono por séculos de inércia. Visitar o Santuário do Senhor Santo Cristo. A imagem enclausurada atrás das grades, ao fundo da sala, majestosa , mítica de olhos grandes e comunicantes, com penitentes ajoelhados, gente que se entrega na crença da salvação ou que pede perdão por actos irreflectidos.

Almoçar em Lagoa num restaurante especializado em peixe. Os barcos em terra para arranjos. Pescadores que amanham o peixe junto à muralha. O complexo de piscinas naturais.

A Lagoa do Fogo é um assombro de emoção. A neblina que cobre a paisagem paradisíaca de vegetação luxuriante e que de quando em quando se entreabre movida por aragens frias e nos permite desvendar a cratera coberta de água estanhada, quieta, escondida.

O Zé Carlos da livraria foi o anfitrião deste desvendar de sonhos e, no regresso, mostrou-me outras pequenas delicias, como praias de areia e pedra negra com recantos únicos. Mas é muita emoção acumulada numa só viagem. Ainda não me tinha refeito do deslumbramento causado pela Terceira.

 

 

registed by: Samuel Dabó

 

19
Mar08

NA ILHA TERCEIRA A PRIMEIRA- Parte 2

samueldabo

A estrada que liga A cidade da Praia à de Angra do Heroísmo, um piso bem cuidado, ladeada por pastagens em quadriculas rodeadas de pedras enegrecidas, o verde das árvores, as flores nas bermas a saudar quem passa com  aroma e cor, hortênsias , orquídeas de tons aveludados e as vacas pachorrentas atravessando a via, indiferentes aos automóveis, cheirando-nos, majestosas .

Nas localidades intermédias, os Impérios de cores aguerridas, sobressaindo da tradicional cor da pedra do casario e dos monumentos de traça renascentista, que os abalos sísmicos vão poupando nas suas constantes investidas. E ao fundo, à esquerda, o mar na sua majestade , parecendo dócil à distância, o mar azul .

Tanto que ficou por ver. O Algar do Carvão, as grutas, a caldeira da cratera de Guilherme Moniz. Mas uma chuva miudinha, o tempo escasso, o respeito pela bondade da hospitalidade.

O meu primeiro passeio pela cidade de Angra, teve paragem obrigatória na pastelaria, à saída do largo fronteiro ao hotel, quando a rua começa a descer em direcção ao mar, no Alto das Covas.

O café, Delta de boa qualidade e um percurso guloso pelas iguarias, com destaque para as Donas Amélia e as Queijadas da Graciosa.

Descer a Avenida que  desemboca no largo da Câmara e deter-me por momentos  no edifício da Sé, entrar e ficar apaixonado pela sumptuosidade envolvente.

Chegar ao mar, a baía, o forte de S.João Batista, o Forte de S. Filipe, o Monte Brasil.

Descer até à nova Marina, orgulho dos Terceirenses, o restaurante, A esplanada a convidar um breve repouso a ouvir o murmúrio das ondas esbatendo-se nas pedras que formam a muralha.

Retemperar das emoções com uma refeição salutar na casa do peixe, provar o vinho dos biscoitos,  o queijo fresco com o acre sabor vermelho, o ananás de sabor único ,a arranjar energias para atacar o monte que, em frente, me fazia negaças, como que duvidando da minha capacidade.

Subir o Monte Brasil, a pé, por entre frondoso arvoredo, povoado de ideias de mistérios, de encontros afortunados, de silêncios cúmplices  e deter-me no local de vigias antigas, onde os baleeiros sondavam a aproximação inocente dos cetáceos e bradavam ás  companhas .

Descer novamente a estrada serpenteada , atravessar a mata, descer escarpas até um novo posto de vigia desactivado e encontrar um par de namorados que se beijam ou se aquecem ao sol que entretanto se instalou em toda a plenitude.

O parque infantil de grandes dimensões, à  Americana, preenchido de crianças felizes e descomprometidas.

Na residencial, um banho urgente.

Apanhar o ultimo autocarro para os Biscoitos o qual faria a última carreira de regresso. A delicia da paisagem marítima , as localidades rurais, o gado nos pastos em jeito de postal.

Nos Biscoitos, o mar com ondas e areal, o museu do vinho, os processos de fabrico e maturação. Provar. Um néctar. Comprar uma garrafa e sair a correr: O motorista ,fiel à palavra dada, a apitar, rompendo o silêncio de Domingo.

Jantar no Carolina do Aires e conhecer o mestre Chico . O peixe espada grelhado na pedra, o queijo fresco, o vinho do Pico, as Donas Amélia .

Descer novamente e voltar à casa do peixe, onde o som de guitarras e cantares juvenis, entoando baladas que me fazem lembrar outras descobertas, me atrai. Estão sentados, outros em pé, A baía com as águas espraiadas, uma brisa quente e húmida, a silhueta do forte e o Monte  Brasil em crescendo, as luzes mortiças de candeeiros antigos.

Caminho ao longo da muralha e saúdo os pescadores de cana, linha, até ao bar no limite da estrada, na base do monte e tomo um outro café.

Volto aos cantadores, jovens à procura de encontros espirituais, de se acharem no turbilhão das oportunidades que vem de longe, a apaziguarem a fatalidade de estar numa ilha que não tem lugar para todos nos seus sonhos.

A noite soberba e tão ampla. Olhar da janela do quarto a perscrutar a escuridão do mar na procura de uma luz, um indicio de vida em frente, ao redor e nada. Escuro e o que é suposto ser o oceano imenso que nos cerca e defende.

Na avenida da sé, o frenesim dos automóveis, sobem e descem e voltam a subir porque parar é morrer.

A Adega Lusitana, a sopa dos deuses. Da AVÓ.

- Posso comer só a sopa?

O sorriso simpático da empregada, A alcatra cozinhada com amor. E novamente o queijo, o ananás, a Dona Amélia de sabores indiscretos.

É a hora de partir. Com que infinita saudade!

O aeroporto em obras de remodelação. O pequeno avião que nos leva para S. Miguel.

O adeus Terceira, com amizade, com amor, com paixão.

 

 

registed by : Samuel Dabó /P>

 

16
Mar08

AS MULHERES LOIRAS DE OLHOS VERDES DOS AÇORES

samueldabo

Talvez devesse dizer de S. Miguel, porque na Terceira não as vi, e nas restantes não tive a fortuna de conhecer ainda.

De entre as brumas da Lagoa do Fogo, da doce beleza das Sete Cidades, a majestade da ribeira atravessando a cidade do mesmo nome, passando ao lado da ovelha ranhosa, rabo de peixe, a destoar dum todo quase sem mácula, dos calafrios emotivos ao respirar as entranhas da terra nas caldeiras das furnas, o cozido, o cheiro e sabor a enxofre, até à indescritível sedução do Nordeste, o recorte da costa a pique, as pequenas cascatas nas montanhas verdes de vida, sobressai a mulher loira de olhos verdes e tez clara.

O loiro dos seus cabelos, escorridos sobre os ombros, ondulantes ao vento, não é oxigenado nem platinado, nem louro como eu conhecia, é um loiro diferente e o verde dos olhos não são enganos, como diz o povo, é um verde esmeralda, ou outra preciosidade por mim desconhecida, raiado de outros verdes e denotam esperança.

Observo a silhueta que se aproxima, com uma fixação quase deselegante, desvio-me para ver o perfil da direita, dou uns passos à frente e volto-me, como que alheado, para mirar o perfil da esquerda, e uma vez mais de frente, apanho os olhos nos meus olhos, sorrio e encolho os ombros a disfarçar, e fico ali, a envolver-me, à beira do santuário do Senhor Santo Cristo, a interiorizar uma ideia quase absoluta da beleza feminina.

 

 

registed by: Samuel Dabó

 

21
Fev08

PROCLAMAÇÃO DO CAOS

samueldabo

Hoje é dia de abolir.

Proclamamos o caos Universal.

Em toda a parte, as pessoas vão abandonar os locais de trabalho.

É decretado o fim do dinheiro.

A propriedade é pertença de todos

As mulheres com cio seduzem os homens que vagueiam, sedentos.

Não há esposos lícitos e casais comprometidos.

Os filhos não reconhecem os pais.

A criação metodizada, acabou.

Fecham fábricas ,bancos e sociedades de mediação.

Fecham escolas, comércio e casas de prostituição.

O Sol vai continuar a brilhar por mais algum tempo.

É extinta a poluição.

Os automóveis param .

Os agiotas revoltados são queimados juntamente com o dinheiro amealhado.

A água corre livremente nas torneiras.

A electricidade e o gás são consumidos até ao fim.

A floresta cresce selvagem.

Os animais recuperam o estatuto perdido, o cão, o gato, a sardanisca, etc...

Voltam os piolhos, as lêndeas e percevejos.

Acabaram os perfumes sedutores e enganosos.

Dão-se vivas ao odor corporal genuíno.

Os escritores e outros intelectuais morrem de fome, porque tolhidos de iniciativa prática e são comidos pelos ratos e outras pequenas feras que ajudaram  a sair de cena.

Não há telefones, rádio, televisão, jornais.

Não há crimes, violações, raptos.

A corrupção foi-se.

Nada.

Os computadores jazem, inactivos.

Casinos e outras salas de jogo são palco de orgias compulsivas.

O sucesso, a liderança, vitória, derrota, angústia, desespero. Nada.

É proclamada a alegria.

Não há dor, sofrimento, doença.

Não há stress. Nem enganos.

A cada um a sua verdade.

Não há culpa, erros, perdão que já fiz merda .

Fronteiras abertas e a linguagem dos gestos.

Fim ao terror dos chefes e dos impostos.

Fim aos monopólios da verdade viciada.

Não mais vendedores porta a porta.

Não mais aviões, satélites. foguetões. Céu limpo.

Exércitos desfeitos.

Armas incineradas .

Não há ódio. Só amor. solidariedade. Porque estamos, enfim sós, e cada um precisa irremediavelmente do outro para subsistir. Partilhamos a alegria e o  poder de decidir .

Vivemos cada dia. Não há futuro.

Até que alguém nos ache.

 

 

 registed by: Samuel Dabó

23
Jan08

TERRORISMO (II)

samueldabo
A morte de 26.000 crianças por dia, no mundo é o fruto da ganância e da corrupção, sem limites, de governos, laboratórios e outros intervenientes a que não somos alheios, por inércia ou compadrio.
Estamos perante um acto terrorista global, para o qual não se vislumbra qualquer solução de curto prazo.
A solução, para alguns grupos farmacêuticos, seria que estas crianças em risco fossem oferecidas para cobaias. Sempre se salvariam algumas.
Para outros, todas as crianças em risco, deveriam ser prometidas como mão de obra ao custo da refeição diária. Sempre se salvariam outras tantas.
A Ajuda alimentar é, na maioria das vezes, desviada para obtenção de lucros.
A ajuda medicamentosa, idem.
E a burocracia?
Sei de uma editora que esperou largos meses, com milhares de livros encaixotados, a aguardar autorização de embarque para Angola.
A doação de usados ( roupas, brinquedos, maquinas do lar, mobilias,etc.) que os povos abastados oferecem a associações de natureza humanitária, são muitas vezes subtraídos, numa primeira escolha, pelos prórios antes de serem enviados aos locais de carência.
E depois, há o transporte. Sugeria que todos os aviões comerciais reservassem um espaço no porão de bagagem, para carga de bens humanitários.
É mais fácil transportar droga, armas e outros bens que viajam à borla e aquecem os bolsos de muita gente dita de bem.

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