PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO . Cont.7
Alberto ficou em estado de choque. Seguia o policia e ouvia como que vindo de muito longe, a voz que procurava dar-lhe algum conforto. Tinha presente, uma fixação, a imagem de Carla debatendo-se, a angústia nos seus olhos lindos, o terror. E ele, impotente, sem meios de a proteger como prometera e a fizera acreditar.
Pronunciava baixinho o nome de Carla. Lado a lado, o policia esbaforido pela corrida e chegados à esquadra, os telefonemas a alertar as entidades em todos os pontos, a equipa que o queria interrogar. Se vira os raptores. O pormenor do carro, matricula, cor, marca. Algum indicio que pudesse ajudar. Nada.
Deixou a identificação, o hotel onde se hospedava, e saiu como louco. Voltou à baía. Em passos rápidos, tropeçando nas saliências, foi até ao bar e voltou, subindo a rua da Sé até ao alto das covas, desceu na direcção do mar. Ergueu as mãos ao céu . Procurar, encontrar, Carla meu amor. Porquê tu,
Não dormiu e o seu aspecto não ajudava a que lhe dessem a devida atenção. Foi à esquadra ver se havia noticias. Nada. Foi à policia marítima . Nada. Alugou um carro para percorrer a Ilha, junto ao mar. Toda a Ilha.
Alberto encontra Paula, colega e grande amiga de Carla que lhe fora apresentada dias antes.
-Alberto, que tragédia! Carla era a minha melhor amiga. Estudámos juntas e leccionamos na mesma escola. Temos até um mesmo método pessoal de ensino que aprofundamos em conjunto, em que o aluno é o fim único, como pessoa. Eu bem a avisei que o tipo era um mafioso. Não sei o que ela viu nele. Como se deixou envolver.
Alberto estava em outro lugar. As palavras de Paula. Longe, em surdina. Envoltas de sons desconcertados , mas percebeu mafioso e questionou-se: A que propósito?
-Paula, desculpa, não ouvi tudo o que disseste. Por ventura era importante, mas estou exausto e preciso de algo que me alimente a esperança. Quem é o mafioso?
-O Santiago , o tipo com quem ela casou. Felizmente que por pouco tempo. Para mim foi ele que planeou tudo.
-Paula!...Então temos de dizer isso à policia.
Pegou na mão de Paula e arrastou-a para a esquadra. Informaram os agentes das suas suspeitas para que fizessem diligências. O tipo era de Ponta Delgada.
-O tempo urge, senhor agente. Disse Alberto com exaltação.
Agora foi Paula que pegou na mão dele e o levou a tomar um café. Tentando animá-lo. Chamá-lo à vida. Que quando Carla voltar não vai gostar de o ver assim.
O pensamento de Alberto está em Santiago , que nem sequer conhece . Toca o telemóvel . Alberto olha o visor com esperança. A chamada é privada.
-Está? Alô, quem fala? Está? Está lá?
O silêncio a regurgitar a angústia em espasmos doloridos nas frontes suadas. Os olhos alucinados.
-Quem era? Perguntou Paula.
-Não sei. Não falaram.
O telemóvel volta a tocar. Alberto deixou que tocasse por um momento. Clicou para atender.
-Está lá? Sim, por favor? Está a ouvir-me? Está? Desligaram.
Pensativo, Alberto, enquanto caminhavam sem rumo definido , entraram na nave da Sé. O silêncio de recato religioso. Olhou os Santos e a imagem de Cristo.
-Meu Deus trazei-ma de volta.
Alberto, num repente, dirigiu-se para a saída dizendo:
-Já sei! Mariana.
Paula, estupefacta, sem perceber o que se estava a passar, acompanhando-o a custo.
-Que se passa ,Alberto? Quem é Mariana.
-Mariana é a minha ex-mulher. Há precisamente um ano que não sei nada dela. Estes telefonemas só podem ser dela. Era um hábito ardiloso dela para me provocar.
Repetia palavras sem nexo, a procurar conjugar implicações. A conexão entre os mafiosos e a justiça. Um turbilhão de hipóteses. Voltou à policia. Aditou os indícios . E partiu para procurar Carla junto à costa, nas praias, por toda a Ilha.
Registed by Samuel Dabó