PAIXÃO EM ANGRA DO HEROÍSMO - Cont.2
Angra sempre tinha exercido sobre mim um fascínio de sedução. A agitação dos automóveis subindo e descendo a rua da Sé, o edifício da própria Sé, esplendoroso na traça arquitectónica , na majestosa religiosidade que o envolvia. o belo jardim ao fundo, à esquerda depois de passar a livraria Adriano, Jardim Duque da Terceira, em socalcos , exótico na variedade botânica, túlipas, camélias e magnólias de aromas, fluidos de amor e bem decorado por mãos hábeis e amantes do que fazem.
Carla tinha-me sugerido que saíssemos, respirar o ar na sua pureza,
Acendi um cigarro, junto à porta, enquanto aguardava que saísse da casa de banho, e os meus olhos vagueavam pelas alturas verdejantes do Monte Brasil, em frente, sonhadores, enquanto pensamentos desordenados, em apoteose, provocavam um latejar intenso nas frontes, o coração palpitante, a senti-lo bater nos pulsos, a ouvi-lo bate em batidas compassadas, acelera, ao ouvido.
Vejo o corpo de Carla que já lá vem, graciosa de andar leve, altura mediana, uns pés pequenos em sapatos de cor vermelha, salto raso, e as pernas a sobressaírem da saia de ramagens, flores da ilha, esbeltas, sobre o joelho., e a blusa de uma só cor, verde cintilante, ou são os meus olhos, entreaberta a deixar ver a forma dos seios, pequenos, firmes, palpitantes.
-Alberto, gostava de lhe mostrar um segredo meu, um local que me ficou da adolescência, aceita?
- Claro. Mas tem que me prometer.
-O quê?
O sorriso dela, a abater-se superior, em desafios de avanços e recuos, sobre o meu ser, num todo, quase absurdo, a apoderar-se, como dona efectiva já, da minha vontade.
-Que não me raptas.
-Prometo.
O diálogo ingénuo, quase infantil, e os dedos dela entre os meus lábios, em cruz, primeiro nos lábios dela, húmidos, os dedos, sabor a frutos.
-Juro!
E o cérebro: abraço, não abraço, beijo não beijo, o caos num turbilhão libidinoso de vontades, carências. Não
-Pergunto a mim próprio como uma mulher bonita, vistosa, atraente, não tem um príncipe e não sei quantos mais pretendentes. Presumo que sejas uma mulher difícil .
Digo as palavras enquanto caminhamos, lado a lado, me agarras o braço numa saliência de terreno e encostas o seio do teu lado esquerdo, provocando-me calafrios de cálida felicidade.
-Quem te disse que não tenho um marido? Um namorado? Que não sou uma infiel, à procura de uma aventura continental?
As palavras proferidas com uma ironia ternurenta. O cheiro a basalto, a mar, a cio numa mistura luxuriante, a tomar-me de novo todos os sentidos.
-Tens? És?
Carla parou segurando-me a mão e colocando-se em frente, barrando o caminho, Que caminho? O olhar doce, nublado por emoções presentes e antigas, numa amalgama frenética de dor e alegria ,de se evadir, cavalgando a minha curiosidade.
-Sou divorciada. Apaixonei-me por um delegado de propaganda médica, de Ponta Delgada. Falador, loquaz, de aspecto simpático, inteligente na aparência, que prometeu amar-me eternamente.
Como eu sinto a tua dor! Uma lágrima sentida a bailar, no canto do olho.
-E então? O que falhou?
-Saiu -me um trapaceiro infame. Um amante abrutalhado, onde eu só pensava haver suavidade. Violência. E eu não sou de me ficar.
Ficaste ainda mais bela. Saiu o ódio acumulado há meses, anos, que importa, e a luz da pureza voltou a iluminar de serenidade o teu rosto mavioso
continua
registed by : Samuel Dabó /P>